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Há muito do 30 no 35!

por Ao Colinho do Isaías, em 16.05.16

O Glorioso Sport Lisboa e Benfica sagrou-se ontem tri-campeão nacional da I Liga, tendo conquistado o seu 35º título.

Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.


Intensos como poucos, os adeptos Benfiquistas são, por norma, extremamente supersticiosos e preservam, com ou sem vontade, com prazer e com sofrimento, muitos fantasmas da História do seu clube. Esta comparação que aqui farei, apesar de positiva, não deixa de pertencer à categoria dos fantasmas, pois as boas memórias (como a do 30º em 1993/94) que os Benfiquistas guardam são, também, como se viu até 2004/05, uma assombração quando surgem distantes no tempo.

 

Muitos Benfiquistas, crentes na vitória final neste campeonato, particularmente a seguir à vitória em Alvalade, não deixaram de temer outro "fantasma", o de Kelvin há 3 anos, por exemplo, ainda que o escondessem em gritos de apoio a esta equipa que acabou por fazer História.

 

Este 35º tem, assim, muitas semelhanças com o 30º, conquistado em 1993/94, ainda que com as devidas diferenças, obviamente. Em primeiro lugar, em 93/94 o FC Porto estava mais forte, tendo mesmo roubado o segundo lugar ao Sporting no sprint final. Depois, ao invés de dois jogadores importantes terem rumado a Alvalade, foi sim o treinador bi-campeão, muito querido entre os adeptos por motivos que já enumerei anteriormente, a partir para o Sporting e o vice-capitão, com oito épocas de Águia ao peito, a rumar ao FC Porto. Também importante diferença é a situação financeira entre as duas épocas: no 30º, o Glorioso começava a sentir um afundamento que, como não foi invertido, muito pelo contrário, por Manuel "Coveiro" Damásio (por muito que seja convidado a aparecer em eventos do Benfica, jamais se livrará da memória do que fez de mal ao nosso clube - outro dos "fantasmas" que mencionei), provocou um naufrágio que durou uma década.

Foi, por isso, e em semelhança ao campeonato da época 1993/94, uma vitória do Sport Lisboa e Benfica perante um intenso ataque dos seus rivais, com as diferenças contextuais apontadas.

 

 

Rui Vitória começou mal a época. Sim, muito por culpa da pré-época desastrosa com as malas às costas no continente Americano, mas também devido a não ter sabido, na altura, exorcizar dos seus jogadores, dos adeptos e, talvez, de si próprio, o fantasma de Jorge Jesus, que teimava em subsistir nas sombras do mundo Benfiquista como um papão. Benfiquista como é, Rui Vitória deveria ter tido a noção do que é a mentalidade Benfiquista e do seu inconsciente apego aos "fantasmas". Em sua defesa se deve apontar a sua falta de experiência no contexto de um clube da dimensão do Benfica, sendo que a estrutura do clube lhe deveria ter proporcionado essa ajuda, o que não aconteceu. Vitória permitiu, pelo seu relativo silêncio e discurso repetitivo, que o seu trabalho estivesse sempre refém das impressões digitais do seu antecessor.

As ideias de Rui Vitória são diferentes das de Jorge Jesus. O facto de ambos terem optado por um 4-4-2 no Benfica, não as torna semelhantes, de todo. Nenhum dos dois inventou esse esquema táctico, nem tão pouco o jogo interior dos extremos que acabou por impulsionar a equipa para uma classificação nunca vista. Com Rui Vitória viu-se maior controlo emocional nos diversos momentos de jogo, maior cautela, maior pragmatismo num futebol mais prático (assim que os fantasmas foram, por fim, exorcizados). Viu-se também uma preocupação, de base, em utilizar o trabalho de muitos anos que se tem feito no Seixal - ponto fundamental para a sua contratação.

Rui Vitória foi criticado - e com razão! - no momento em que precisou de o ser, porque o Benfica é exigência, uma casa onde se aprende vencendo perante os rivais mas também perante as limitações próprias. É agora - e com grande mérito! - elogiado pela extraordinária liderança que conseguiu impor de forma calma e convicta, levando a equipa à vitória final.

A semelhança desta 35ª conquista do campeonato nacional com a 30ª reside no ataque sem tréguas do Sporting que, uma vez mais, tal como em 1993/94, tendo derrubado o seu odiado rival no primeiro assalto, tratou de o querer humilhar, de se regozijar com a conquista que ainda não tinha atingido. O 0-3 na Luz aplicado pelo Sporting, perante as exibições do Benfica que a antecederam tão manchadas pela dúvida em relação ao valor de tudo o que envolvia a equipa, em particular Rui Vitória, foi esse tal momento do knockdown (utilizando linguagem do boxe).

«Está ganho!» - ouviu-se do outro lado da 2ª Circular. Essa curta ideia após a vitória na Luz acabou por servir o propósito de (consegue perceber-se agora, à distância) retirar de Rui Vitória o peso da expectativa por parte dos adeptos e deixá-lo trabalhar as suas ideias "em sossego". Aos poucos e poucos, o Benfica lá ia ganhando, melhorando aqui e ali, fazendo exibições excelentes como a de Madrid, alternadas com a pobreza na Madeira diante do União.

Foi, no entanto, na conferência de imprensa de resposta às "postas de pescada" em que foi acusado de "não ser treinador", que Rui Vitória tomou, finalmente, as rédeas da equipa, exorcizou das suas mentes Jorge Jesus e uniu os adeptos à sua volta. A partir daí, só o FC Porto travou este Sport Lisboa e Benfica a nível nacional, na melhor exibição da época da equipa azul e branca, colocando um carácter decisivo estampado no jogo de Alvalade.

 

Neste momento, devo lembrar que o Sporting teve 8 pontos de avanço sobre o Benfica, a dada altura. 8 pontos de avanço e perderam 10, 3 dos quais nesse jogo em Alvalade. Mesmo se excluíssemos os erros de arbitragem que favoreceram o Sporting (e não foram poucos, até fora de campo, como o caso "Cotovislam" Slimani), que justificação sobra aos responsáveis pelo Sporting, e a Jorge Jesus em particular, para a perda de 10 pontos de uma super-equipa como o treinador disse que a sua equipa era? E isto sem contar com as falhas de arbitragem que favoreceram o Sporting! Será que Bryan Ruiz não tem qualquer responsabilidade na perda desses pontos, falhando dois golos no derby, um de forma escandalosa? É que os adeptos do Sporting devem entender (e muitos entendem-no, há que dizê-lo) que quando os Benfiquistas criticaram Rui Vitória, fizeram-no com o mesmo amor ao clube que quando agora o elogiam - ou seja, é na identificação das responsabilidades próprias que reside a força para se transformar uma derrota em vitória. Nunca os Benfiquistas no geral se focaram no Sporting (por muito que os responsáveis do emblema do leão o quisessem e tentassem, pela provocação), mas sem dúvida que o Sporting se focou inteiramente no seu ódio irracional ao Benfica e, em particular, nas vitórias da Supertaça e no 0-3 na Luz. O 0-1 em Alvalade foi, mais que um balde de água fria, uma reviravolta emocional no campeonato. Do «Está ganho!» passou-se ao «somos a melhor equipa» e «eles têm sorte».

 

A cada vitória do Benfica na longa caminhada entre Alvalade e a 34ª jornada, o desespero leonino foi crescendo, por perceberem que tinham dado, uma vez mais, historicamente, um tiro no próprio pé - tal como em 1993/94 com Sousa Cintra e o despedimento de Bobby Robson. Imagine-se se nos anos 90 houvesse Facebook e os jornais online como agora. Sim, Sousa Cintra teria feito algo parecido a nível de comunicação contra o Benfica, não tenho dúvidas.

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A postura de Jorge Jesus na conferência de imprensa a seguir ao jogo em Braga fez-me lembrar a de Sérgio Conceição no final da Taça de Portugal do ano passado: incapazes ambos de reconhecerem os erros próprios e os méritos dos adversários. É que Sérgio Conceição perdeu no Braga que orientava uma Taça de Portugal perante um Sporting que acreditou mais e soube ser humilde no jogo, tal como Jorge Jesus perdeu no Sporting um campeonato diante de um Benfica que soube ser prático e humilde durante a totalidade da maratona. Ainda por cima, Jorge Jesus saiu cedo das competições europeias e com resultados pouco dignos para um clube Português, muito menos para um da dimensão do Sporting. Jesus continua, portanto, refém de si mesmo: é dele o mérito, ganhe quem ganhar. Burro velho não aprende truques novos. É pena, porque poderia ser um dos melhores da Europa, mesmo tendo chegado tarde ao futebol de topo. Só que os jogadores sentem isto tudo, por muito que queiram ser profissionais - eles sabem que, para Jorge Jesus, só contam se lhe derem êxito. Fora isso, são meros joguetes nas suas mãos.

Rui Vitória, por seu lado, teve todo o direito, ao contrário do que alguns afirmaram, de dar uma resposta que até podia ter sido mais contundente ao treinador do Sporting que o tentou humilhar ao fim do primeiro assalto. "Quem não se sente não é filho de boa gente" e muito já o homem que existe por detrás da máscara do profissional de futebol teve de suportar. O seu comentário, lançado com a mesma serenidade de (quase) sempre na direcção do rival, foi um coup de grâce ao orgulho do seu homólogo rival, inteiramente merecido por este. Rui Vitória foi campeão com uma pontuação Histórica, sem Matic, Enzo Pérez, Cardozo, Di Maria, Saviola, Aimar, Garay ou Witsel. Foi campeão sim com Nélson Semedo, Renato Sanchez, Lindelöf, Gonçalo Guedes, Éderson e até, porque não incluir, Nuno Santos, Jovic e Clésio. Com este treinador, os jogadores sentiram-se o centro do jogo, o centro da equipa. O mérito sempre lhes foi atribuído.

Por muito que se possa apontar a Luís Filipe Vieira, ele é reconhecidamente, pela sua aposta ganha, o arquitecto do 35 e do tri-campeonato. Até o seu mais recente opositor o reconheceu, antes de terminar o campeonato e de se saber o resultado final da prova, que não faria sentido candidatar-se contra o actual presidente.

 

Com tudo isto, tenho de dizer que o Sport Lisboa e Benfica conquistou esta época, para o seu rol de fantasmas, mais um: da próxima vez que estivermos por baixo e nos quiserem humilhar, lembrar-nos-emos de 2015/16 e do célebre 35 conquistado por Rui Vitória.

 Que seja o primeiro de muitos!

 

Não sendo apreciador do estilo musical em si, penso que esta canção define muito do que foi a história deste campeonato:

 

E porque não terminar com um sorriso? :-)

inimiog publico - rv.PNG

Actualização 16/Maio/2016, 21.23h:

Video que resume esta época, os altos e baixos, elaborado por Guilherme Cabral.

 

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rematado às 14:06




4 comentários

De BENFICA365 a 16.05.2016 às 14:50

Belissimo Post!
Felicitações Tricampeão!
Sexta há mais, comigo em Coimbra!

De Ao Colinho do Isaías a 16.05.2016 às 14:52

Caro Benfica365,

Sexta há mais, sim Sr!

Um absurdo uma final destas numa sexta-feira... enfim! Proençadas!

Rumo ao 36! Começa hoje esse trilho!
Abraço,
Isaías

De Ricardo Fernandes a 16.05.2016 às 21:58

Grande post como sempre Isaías!

Agora falta a taça e depois é #Rumoao36

PS. Obrigado pelo link!

De Ao Colinho do Isaías a 16.05.2016 às 22:02

Grato, caro Ricardo Fernandes!

Os Benfiquistas são sempre bem vindos aqui :-)
Continua com o teu blogue pois é importante sermos vários e variados!

Cumprimentos,
Isaías

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