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Os versos de Fernando Pessoa, que dão o título a este artigo (e que originalmente o autor atribui poeticamente a D. Pedro, regente por D. Afonso V), encaixam-se na perfeição ao actual treinador da equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica. É um homem tão fiel à sua forma de ser e à sua convicção que nos chega a abalar com a sua fé imensa (por vezes exagerada) nas suas capacidades.
A possível renovação com Jorge Jesus tem opositores apaixonados - e que não deixam, pela paixão que apresentam, de ter a sua razão no que apontam - mas trata-se do passo correcto a dar, tal como o foi após o frustrante final de época 2012/13. Uns apontam as campanhas fracas na Liga dos Campeões, outros referem as substituições incompreensíveis que custam pontos em alguns jogos contra adversários perfeitamente ao alcance do Glorioso. Ambas as afirmações têm fundamento: Jorge Jesus só por uma vez teve uma campanha de bom nível na prova principal Europeia e é facto que algumas vezes mexe mal no jogo e isso já custou pontos. Em relação ao primeiro ponto, há que lembrar que houve duas finais da Liga Europa (que só as perde quem as joga) perdidas de forma extremamente cruel (numa, um canto no último minuto, noutra a lotaria dos penalties após uma exibição vergonhosa da equipa de arbitragem). Quanto ao segundo ponto, há que assumir que em termos gerais temos tido, na era Jorge Jesus, uma equipa do Sport Lisboa e Benfica muito mais competitiva em termos nacionais e internacionais, apesar dos erros ocasionais.
«Nenhuma ideia brilhante consegue entrar em circulação se não agregando a si qualquer elemento de estupidez.» - Fernando Pessoa
Jorge Jesus não é um homem de letras, não é um intelectual sofista, eloquente, que mova multidões com o seu vocabulário. Tem nele, aquela dose de "estupidez" (e esta palavra bem entre aspas) que é comum no geral a todos os povos, ao Português em particular, e com a qual não há quem não se identifique um pouco, pelas tascas, tabernas, cafés e snack-bars deste país. Foi assim que JJ entrou "em circulação" - com as suas calinadas, o seu modo popular de se expressar, a assunção e até orgulho das suas origens. Quantas páginas de jornais e de blogs não se fizeram com as mais recentes expressões inventadas por JJ?
Só que, não sendo um declamador de frases feitas que fiquem bem, Jorge Jesus é um homem profundamente convicto nas suas ideias. Foram elas que o transportaram desde um anonimato espectável, para quem começou a treinar no Amora, até o mais alto nível nacional, no Benfica. Foram elas que lhe renderam títulos, que lhe abriram as portas do mundo do futebol que sempre amou e ama (e esse seu amor pelo jogo é inabalável!).
Ele trouxe, assim, estes dois factores a um Sport Lisboa e Benfica que carecia muito não só "do seu próprio umbigo" como de uma ideia concreta e estável em relação ao seu futebol - trouxe uma identidade popular (que sempre fora importante no Glorioso) e uma convicção inabalável numa ideia de jogo.
«Um bom modelo vale mais que um longo discurso.» - Napoleão Bonaparte
Quer se goste ou não do modelo, da ideia, da forma de Jesus montar as suas equipas, faltava ao futebol do Sport Lisboa e Benfica uma convicção assumida e clara. Realmente, conforme Napoleão indicou, uma convicção, um esquema funcional, é mais importante que palavras ocas que ninguém, verdadeiramente, percebe e que só servem para encobrir incompetências. O Benfica, na sua História, é um clube tradicionalmente de ideias e convicções fortes e claras - exemplos: quando se tornou num clube vencedor que alinhava somente com jogadores amadores, ou quando somente jogadores Portugueses podiam envergar a camisola rubra de águia ao peito. Foram ideias fortes e claras, que mudaram com o andar dos tempos, naturalmente, com a adaptação a novas realidades, mas ainda assim válidas, claras e fortes ideias.
Jorge Jesus devolveu esse pedaço da História Benfiquista ao clube - sendo ele um Sportinguista de origem - talvez por ser "filho" de uma época em que se vivia e morria de acordo com as convicções detidas, não só no futebol. Hoje a equipa do Benfica sabe com que modelo contar. Sabe que ideias tem de pôr em campo. Quer se goste quer não, saber-se com o que contar e o que é esperado de cada um é um elemento fundamental para um sucesso sustentado e não apenas ocasional.
Penso que terá sido "palavra dada" que Jesus renovará se for bicampeão. Considero também que o mesmo acontece com Maxi, a quem foi "palavra dada" que beneficiaria do contrato merecido pela importância do seu contributo e alma, "bastando" para isso ser campeão dois anos seguidos.
Neste sprint final, apesar de reconhecer claramente os defeitos e os feitios de Jorge Jesus, estou convicto que tal vontade será uma realidade e que o treinador renovará para permanecer fiel às suas ideias e convicções. Aqui o Isaías, a concretizar-se, não fica nada insatisfeito que tal suceda (bem pelo contrário), mesmo quando uma ou outra decisão daquela cabeça que habita por debaixo da longa juba, me faz exclamar um sentido, profundo e ruidoso
F#&4-$E!
Nem eu nem nenhum dos Benfiquistas que assistiu ao jogo está agradado com a exibição nem com o resultado. Podemos estar satisfeitos, dado o que foi o jogo, mas não agradados. Ainda assim, o que saltou mais à vista nesta partida foi que, tendo a estratégia inicial do FC Porto funcionado melhor que a do SL Benfica - conseguindo alguma vantagem no meio campo na primeira parte - em momento algum da mesma, demonstrou a equipa Portista estofo ou capacidade para arrumar o jogo a seu favor. Um Benfica amordaçado, sem ideias, algo nervoso, também, encontrou pela frente um Porto que se sentia melhor mas sem confiança para verdadeiramente assumir o jogo - tendo obrigatoriamente de vencer, para depender só de si. Houve, de parte a parte, muito nervo mas pouca bola.
Foi de louvar que Jorge Jesus tivesse pensado neste jogo com os olhos postos na vitória - a inclusão de Jonas e Lima demonstram que o que ele projectava para a partida era um jogo de maior incidência atacante por parte da sua equipa. A inclusão de Talisca visava jogar com alguém que pudesse proteger mais a zona interior, mas o Brasileiro já demonstrou apenas ter aptidão para segundo avançado ou 10, dado que, longe da zona de decisão e finalização, não tem mentalidade para a luta mais acesa que se trava no meio campo, se não lhe derem espaço. A estratégia inicial do Benfica não funcionou.
Aí, Lopetegui percebeu melhor o que iria ser o jogo. Montou a sua equipa com a ideia clara de tentar primeiramente conquistar o meio campo, roubar iniciativa ao Glorioso e, com isso, intimidá-lo. Conseguiu fazê-lo na primeira parte. Houve momentos em que o Benfica perdeu o norte e apenas conseguia "chutar" para a frente, entregando de novo a iniciativa ao adversário.
Com este contexto, faltou ao FC Porto o tal estofo que referi, a capacidade de impôr-se, fazer 15 ou 20 minutos intensos e arrumar o adversário. Será esta mesma falta de estofo, que já lhes faltara no Dragão, que definirá este momento do campeonato. A equipa Portista teve a sua oportunidade e não a aproveitou, mantendo-se a diferença entre os dois da frente, o resultado excelente alcançado pelo Sport Lisboa e Benfica no terreno do adversário directo.
Posto isto, note-se que na segunda parte muito mudou - o Benfica entrou diferente e conseguiu colmatar as falhas do primeiro tempo. Equilibrou o jogo e conseguiu criar espaços, algo que, até aí, não tinha conseguido. O Porto tremeu um pouco e não mais conseguiu conquistar o meio campo ao Benfica. Ambos conseguiram alguns lances de perigo, note-se, mas percebia-se que, a não ser uma falha defensiva ou um lance genial, o jogo terminaria a zeros.
Assim foi. O Sport Lisboa e Benfica sai, naturalmente, melhor deste resultado, mas revelou alguma fragilidade no cara-a-cara com a equipa do FC Porto que queria muito ganhar, mas não teve como; ficou-se pelo mérito de impedir que o Benfica o fizesse.
Pizzi não é ainda médio centro ao nível desejado, mas Samaris foi uma verdadeira parede no centro. Jardel esteve irrepreensível e Maxi foi importantíssimo ao tentar dar combustível ao motor Benfiquista. Jonas, quando apareceu não teve apoio (muito por mérito defensivo do adversário) e Lima... anda em baixo, muito importante na movimentação, mas muito menos decisivo. Valeram os pontos que não deixámos ganhar e que fazem valer a vantagem do jogo do Dragão. São três pontos reais e quatro virtuais com quatro jogo para o fim.
Cada jogo, uma final - não poderá ser de outra forma.
PS: Julinho Lotopegui queria saber como se pratica boxe de rua na Amadora, mas foi poupado a essa humilhação... e ainda bem. Não ficaria nada bem ao Glorioso que houvesse luta fora do ringue. Etxera!
O Sport Lisboa e Benfica conseguiu sair do Restelo com os desejados três pontos, contando com dois golos do brilhante Jonas para construir o resultado final. A alegria nas bancadas em mais uma exibição da Onda Vermelha foi enorme, assim como enorme foi, uma vez mais, o Colinho com que esta teima em transportar a equipa de futebol do Glorioso. Os adeptos têm sido fundamentais esta época, particularmente.
A verdade é que este jogo diante do Belenenses esteve quase para ser outro Rio Ave. O Benfica apanhou-se a vencer cedo, com um golo excelente de Jonas, o primeiro dos dois que marcou. Quem considerar que foi um golo fácil nunca jogou à bola, nem entre amigos - estavam dois jogadores adversários capazes de poder interceptar a bola e só um remate frio e calculista podia batê-los. De qualquer forma, tal como nos Arcos, após o golo madrugador, o Benfica sentiu enormes dificuldades em controlar o ritmo de jogo e até de impor a sua passada, a que lhe interessava, na procura de um segundo golo que acalmasse a equipa Belenense. Foi aliás a equipa da casa quem mais tomou a iniciativa desde então, na procura do empate. Nesse aspecto, o campeão pelo Benfica Carlos Martins teve um papel preponderante, pautando o jogo dos azuis sempre com visão de jogo acima da média.
Continua ainda assim a ser estranha a postura do Benfica neste tipo de jogos fora. É certo que não jogam contra pinos, claro, mas há uma questão mental, reafirmo-o, associada ao desaire em Paços. Passou a haver uma dúvida nos jogos fora da Luz desde então. Contudo, considero que é bem possível que esta vitória tenha resolvido esse problema de confiança; uma situação a acompanhar e, espero, confirmar no próximo jogo fora.
Ao intervalo, desenhava-se assim, para muitos dos adeptos e talvez até para os jogadores, o cenário de dúvida e da possível repetição de Vila do Conde.
Só que apareceu o mago Gaitán e Jonas mostrou, uma vez mais, que é matador de topo, verdadeiramente nascido para marcar. Aquele primeiro toque na bola com o peito é exemplar, o remate ligeiramente pingado (em curva descendente ao chegar ao guarda redes) é completamente intencional e absolutamente perfeito. Jonas é um jogador de nível mundial e, quando servido convenientemente, como neste caso por Gaitán, resolve jogos e campeonatos. Já o tinha dito antes, algures, mas afirmo-o novamente: o melhor negócio do Benfica deste século.
O segundo golo matou o fantasma Rio Ave e instalou alguma tranquilidade. Conseguiu o Benfica controlar um pouco mais as ocorrências e tirar fulgor ao Belenenses, que só voltou a assustar bem perto do fim. Aliás, esta equipa, construída por Lito Vidigal e não pelo actual treinador, como bem se sabe, apresentou-se bem afoita e com vontade de disputar os três pontos. O erro inicial de um dos seus melhores jogadores não ajudou, claro, mas perante a eficácia demolidora de Jonas a equipa acabou por ceder.
Segue-se um jogo quente, sim, um jogo enorme. Será, no entanto, apenas mais um jogo e mais um passo nesta caminhada. Um resultado favorável deixa a questão muito perto de estar arrumada e, perante um Estádio da Luz repleto, espera-se o melhor Sport Lisboa e Benfica possível para essa contenda.
Vamos levando o Benfica ao Colinho!
Motivos de força maior impediram-me de comentar mais cedo o jogo com o Nacional da jornada da semana passada. Impediram-me sequer de o celebrar convenientemente. Foi o preto da morte a intrometer-se no branco da vida. Foi o lado reverso da moeda que nos relembra que a festa um dia acaba. Há é esta alegria do Benfica a conviver lado a lado com a mágoa do que se perde para sempre.
A vida prossegue, no entanto, e eu aqui estou.
...
Do jogo com o CD Nacional, destaco a enorme visão de jogo e cultura táctica de Gaitán (adquiridas no Sport Lisboa e Benfica, deve dizer-se), aliadas a uma técnica bem acima da média europeia. Espalhou, sempre que a bola lhe foi endereçada, o perfume de um futebol que, ainda que moderno, se adequava às camisolas do clube Madeirense: o preto e branco. Porquê? Porque fez lembrar o grande Benfica que se via nas velhas TVs a duas cores. Aquele Benfica que não dava hipóteses, especialmente na Luz.
Gaitán teve menos magia na partida com a Académica, outra equipa que veste de preto e algum branco, mas todo o Benfica estava tão unido e em rotação tão elevada, que mal se deu pela menor inspiração do Nico na primeira parte. Só que ele até chegou a tempo de aparecer na segunda!
Em ambas as partidas, o que se viu foi, como referi, futebol de outros tempos. O preenchimento dos espaços, a vontade de chegar primeiro à bola, a atitude permanentemente ofensiva e com os olhos postos no próximo golo: podiam ter sido jogos do Benfica na Luz na década de 70 - basta colocar-se um filtro de cores para passá-las a preto e branco e colocar algum efeito dando "ruído" às imagens, para se ser transportado para a década em que o futebol total e o futebol samba conviveram lado a lado pelos relvados... e pelo Sport Lisboa e Benfica, nessa altura, passou bastante samba... à moda tuga, é claro.
É certo e sabido que durante estas duas partidas a equipa do Benfica teve momentos de desconcentração e, até, algum descontrolo táctico e emocional. A diferença é que, quando estes surgiram, já o resultado se tinha avolumado o suficiente para que qualquer dúvida se pudesse instalar. Até nisto se pareceram com jogos a preto e branco, as cores das camisolas adversárias.
Não restem dúvidas: nesta fase do campeonato (desde Paços de Ferreira), o Sport Lisboa e Benfica na Luz é um e fora da Luz é outro, essencialmente na atitude mental. Ainda falta bastante, mas se o Glorioso passar no Restelo e colocar em campo, com uma Luz repleta, a mesma mentalidade na partida seguinte, o Bi será uma realidade, ao fim de 31 anos. Que venha... ao colinho de todos nós!
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