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Diante de um Vitória demasiado agressivo, não travado por uma arbitragem disciplinarmente passiva, o Benfica uniu-se, fez-se forte e conseguiu resolver uma final complicada em 5 minutos na segunda parte.
O jogo em si foi mais de luta que de espectáculo, mas o que queríamos concretizou-se. Juntámos mais uma dobradinha ao inédito Tetra e vamos de férias com a chama imensa bem acesa.
Parabéns a Rui Vitória por a acender, por nunca tremer diante do trabalho à sua frente, por nunca temer a derrocada quando a derrota nos visita. Fiel, dedicado, humilde. Coerente, sereno, competente.
Vamos de férias tranquilos, sabendo agora que na "Cadeira de Sonho" está um Sonhador com os pés bem assentes no chão.
Rumo ao 37! Rumo ao Penta!
"Olés" com tanto ainda por jogar, tendo terminado a época em nono lugar, estando circunstancialmente a vencer diante do Benfica (já Tetra-Campeão), é um gesto que traz um estigma que certamente o Boavista não quererá puxar a si. Fica à vossa atenção.
Equipa do Benfica descoordenada, o que seria de esperar dadas as alterações extremas e compreensíveis, mas ainda assim combativa e aguerrida que baste para repor o seu orgulho.
Se calhar, se não tivesse sido o desrespeito, teria ganho o Boavista neste jogo, que era disputado a feijões e se tornou disputado a dignidade.
NOTA 1: Parabéns Pedro Pereira, Kalaica (grande golo!), Hermes e, claro, Paulo Lopes.
NOTA 2: Força Benfica no Jamor!
Tais foram as lágrimas que ontem brotaram nos meus olhos, pela emoção da vitória sobre o Vitória de Guimarães, do futebol avassalador, da História, sim, mas sobretudo pelo entendimento profundo do que realmente foi alcançado. Nestes momentos, o Benfica dá-nos a oportunidade, a cada um de nós, de nos erguermos acima do lodo inerente à nossa existência. Os problemas mundanos extinguem-se, as preocupações tornam-se supérfluas, ocorre uma "pequena morte" que nos deixa saborear o êxtase da transcendência.
Só que o Benfica não venceu apenas, fez mais que isso. Abrasou uma vez mais, com a Luz intensa do seu íntimo sol, todos os vampiros conscientes e inconscientes, que desesperam por tapar a contínua manifestação do Fogo Sagrado, para subsistirem. Desligados da vida, eles invejam-nos por o Benfica nos ter escolhido, por nos imbuir com estas chamas que, ao contrário do que se diz, não criam um Inferno da Luz, mas sim que queimam um Inferno (o da mundana existência) com a Luz.
Este é, para mim, também, um momento de redenção. A coragem de um homem é mais facilmente vista pela forma como aceita os seus erros e assume e admira os seus melhores. Sofri de cegueira. Não reconheci Rui Vitória nem quando o vi, nem quando começou perdendo no nosso clube. Não tive a clarividência de perceber e só o milagre da conquista que ainda foi a tempo de conseguir na época passada me mostrou. Ainda assim, apesar de ter mudado o meu discurso aqui no blog, ainda me faltava assumir o erro.
A diferença individual entre Jorge Jesus e Rui Vitória, bem como o efeito que cada um tem nos que os rodeiam, é abissal. Fomos levados pela tentação da boçalidade nos momentos de vitória. Confundimos exigência com prepotência. A isto tudo, Rui Vitória reagiu com coerência, consistência e tranquilidade. Devolveu àqueles que seguem o Benfica um sentimento tão mais próximo da originalidade do próprio clube, tão genuíno, que se tinha perdido pelas eras mercantis, onde deixámos em lápides alguns dos últimos verdadeiros idealistas.
Só que o Benfica não existe fora do seu contexto. Se a era é mercantil, então o Benfica adapta-se. Se o nosso Símbolo é uma estaca cravada na escura Roma, qual um farol (por isso nos situamos na Luz), então si fueris Romae, Romano vivito more (em Roma faz como os Romanos). Se a era é mercantil, então quem melhor que um mercador astuto para liderar o clube e empresa? Luís Filipe Vieira, a quem reconheço variados defeitos que foi revelando ao longo destes 15 anos, tem o mérito de perceber "como ser Romano" antes dos outros. Deu ao Benfica as ferramentas próprias para se afirmar de novo neste novo mundo, tão distante dos tempos da fundação, como outros antes dele o fizeram. Adaptou o clube aos novos tempos. Mesmo que o tenha feito partindo de motivações egoístas, tornou-se num homem cujo Destino se revelou muito maior do que ele próprio.
«O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.»
- in Tabacaria, Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
Vieira encontrou, nestes dois anos, em Rui Vitória, o contraponto fundador, o idealista à imagem de figuras de proa do nosso clube no início e meio do século XX. O homem que soube acender um outro tipo de lume em nós todos, através da comunicação calma e respeitosa, mesmo nos momentos em que teve de se exaltar perante as circunstâncias. A fortuna que o acompanha, acompanha-nos agora, porque Rui Vitória fundiu-se tão naturalmente com o Benfica que, agora, parece que nasceram juntos. E não tenho quaisquer dúvidas que a sua Sorte, tão aliada às suas outras competências nos momentos mais cruciais, tem sido a força da sua "raça ardente e viva". Peço perdão, Rui Vitória. Grato pela alegria e inspiração, que vão bem além das vitórias conquistadas.
E agora, celebre-se mais um pouco. Somos TETRA, porra!
Daqui a duas semanas, já há mais um troféu para conquistar - sempre com o máximo respeito pelos adversários (humanos como nós), sem tomar absolutamente nada como garantido, com total humildade e uma ardente vontade de saborear de novo a transcendência.
Já muitos compararam os "vai-vens" de um jogo de futebol com os altos e baixos do trajecto de uma vida humana. Compreendo e aceito a metáfora, mas, pessoalmente, considero que tal paralelismo deve ir mais além. Não são apenas as nossas vidas pequenas (se comparadas com o todo avassalador à nossa volta), que estão espelhadas naquele rectângulo de relva.
Há umas semanas tinha feito referência à vontade, trabalho e esforço que o Sport Lisboa e Benfica teria de aplicar para ultrapassar o lodo em que se vê inserido, a toda a sua volta, utilizando uma parábola clássica. Tal lodo nunca desaparecerá, por ser natureza da nossa existência, mas neste ciclo temporal que é um jogo, que é um campeonato, que é esta simulação de uma era inteira, demonstra-se quem resiste, quem persiste, quem se transcende.
Ontem, assistimos a um embate de duas grandes equipas. De um lado, um Rio Ave em crescente afirmação, cada vez mais com um projecto sustentado desde a formação e com valências e competências que não são recentes. Do outro, um Benfica à beira de um sonho, de ombros postos à roda da sua carroça, atolada na lama composta por todos os que odeiam o Fogo da Vida.
E foi isso mesmo que se passou: uma luta persistente, sem descanso, ciente da humildade de que se fazem os Campeões, sem pejo de defender cada pedaço de relva como se fosse sempre aquele lance o decisivo. Sofremos, sim, mas porque do outro lado esteve uma enorme equipa, que quis ganhar, que nunca cedeu às tentações do anti-jogo. Estivemos à altura, porque fomos sempre superiores à tentação do nervosismo próprio, associado ao movimento dos ponteiros do relógio.
No momento certo, no aproveitamento da descompensação contrária num contra-ataque perfeito, Jonas descobriu o espaço de forma mágica, Sálvio, fresquinho, correu com o sonho de milhões nos pés e, perante os gritos de todos nós que ele terá ouvido na alma ("Passa a bola, Sálvio! Passa a bola, Sálvio!"), levantou a cabeça, colocou a bola redondinha nos pés de Raúl para que ele nos elevasse a todos à suprema alegria do golo.
A nossa luta de então não terminou aí, da mesma forma que a nossa luta por este Tetra continuará, pois nada estava ontem, nem está ainda hoje, ganho. Tivemos de saber suportar depois o orgulho ferido de um conjunto de jogadores que querem muito ser como nós, partilhar da nossa chama. Fazem falta ao futebol Português mais equipas como este Rio Ave, que querem jogar o jogo e sabem fazê-lo.
Já perto do fim, contámos ainda com a intervenção do nosso magnífico Manuel Bento, que primeiro defendeu um remate para o poste e depois desviou a recarga por cima da barra. Não o viram? Revejam bem a repetição, com toda a atenção, e lá o verão, com o seu farto bigode e os seus despenteados caracóis ao vento, defendendo a baliza do seu Benfica contra o mundo.
Nada está ainda ganho. Estamos perto, sim, mas nunca como no momento mais próximo da vitória é necessaria a concentração.
«O jogo mais difícil de ganhar, é o jogo ganho», citando Emanuel Lasker, o grande jogador de xadrez.
Vençam por vós, vençam por nós, vençam pelo Fogo de que é feita a Vida!
Tivemos um jogo de grande sofrimento diante de um Estoril muito bem organizado e com enorme capacidade de pressão em todo o terreno. Alguém esperava algo diferente?
Nem seria desejável.
Não escreverei sobre futebol, tácticas ou jogadores. Escreverei sim sobre o que nos habituámos a chamar de "Mística", pois será a ela que teremos de apelar dia após dia.
A História do Benfica fez-se de vencer o impossível, que afinal era superável. Fez-se da dignidade de vencer em campo, mostrando-lhes todo o respeito, aqueles que quiseram acabar connosco inúmeras vezes. Fez-se de superar a traição, o abandono, o desdém, sempre, sempre com a vitória honrada e transcendente.
Foi o Fogo Sagrado, inspirando homens como tu e eu, que fez a nossa História, que nos transcendeu.
Este ano não é nem será diferente: no pé do Lindelöf, no pé do Jonas, na cabeça de Lisandro. Nos pés e cabeças e esforço de tantos remates certeiros que já alcançámos e dos tantos que ainda iremos conseguir.
Enquanto nos focarmos apenas e só em nós mesmos, enquanto procurarmos a nossa transcendência através da vitória, sejam quais forem os obstáculos no caminho, com o Fogo Sagrado, está o Quarto Anel; recheado de ilustres, que virá afinar a pontaria, fortalecer os músculos, inspirar a alma dos nossos bravos representantes em campo.
Sem rancores. Sem medo. Sem dúvidas.
Honrai agora os ases que nos honraram o passado!
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