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A inesperada mas merecida derrota com o Tondela despejou as esperanças de um Penta conquistado em campo, por mérito, frente aos inimigos que souberam alimentar-se de nós, das nossas dúvidas, dos nossos fantasmas. Afinal, quantos de nós clicam nos seus sites, compram os seus jornais, assistem aos seus programas na TV?
Por sermos os únicos capazes de nos devorarmos a nós próprios, planearam usar os próprios Benfiquistas contra si mesmos - e funcionou. Reitero, como já escrevi há uns tempos atrás, que o problema não é a crítica. Essa, quando o objectivo é melhorar o que temos no presente, é parte integrante da nossa existência. O problema é quando a crítica não é nossa, mas induzida entre nós. O problema é quando a crítica é transformada em propaganda pessoal com vista a uma agenda futura.
Neste último ponto, falo de Rui Gomes da Silva que, tendo a possibilidade de criticar internamente, em privado, tentando aconselhar quem neste momento está no Benfica (uns bem, outros mal, seguramente, como em qualquer lugar), transforma a sua crítica num circo à sua volta, servindo-se de desaires do Benfica para, através da demagogia de quem (já) não tem a responsabilidade de exercer, bem ou mal, uma função, mostrar-se cada vez mais aquilo que de início negou: ser um candidato alternativo a Vieira.
Tal não seria nefasto, de modo algum - a apresentação de ideais e visões diferentes faz parte da base do Sport Lisboa e Benfica - mas torna-se num claro volte-face em relação ao que, logo à partida, ele deixou claro. Se quer aconselhar o actual Presidente do Benfica (que é uma pessoa por quem eu, pela minha parte, como já escrevi várias vezes, não me identifico, mas a quem reconheço os méritos nos seus momentos), tem, seguramente, acesso a Luís Filipe Vieira, bem como ao resto da estrutura. Poderá tornar públicas as suas críticas, mas nunca antes, nem em detrimento, de o fazer, primeiro, a quem de direito. Isto sim, seria a lealdade implícita à afirmação "jamais me candidatarei contra Vieira".
Há que entender que a tão falada "cultura do Terceiro Anel" se divide em dois períodos diferentes: um primeiro, no qual o "terceiro-anelista" se definia por um apoio incondicional durante os jogos, causando um sentimento de temor nos adversários; um segundo, no qual este se tornou num juiz de um tribunal, frequentemente afectado por soberba, passando a pressionar os seus próprios jogadores.
Hoje em dia, a cultura desse segundo período não funciona. Já não há Nenés. Temos de perceber que haverão momentos em que não conseguimos vencer, como não conseguimos nesse passado. Só que venceremos mais e venceremos melhor se, a nós sócios e adeptos, devolvermos o primeiro período dessa "cultura do Terceiro Anel": em primeiro lugar e à partida, trata-se sempre do que podemos fazer pelo Benfica e não o que o Benfica pode fazer por nós. O que o Glorioso faz por nós é sempre consequência do que fazemos pelo Glorioso.
Aperceber-me que uma criatura como o Sérgio Conceição está a um suspiro de ser campeão nacional é lembrar-me que, apesar de todo o nosso Fogo Sagrado, este mundo é e sempre será, no fundo, deles: dos imorais, dos falsos, dos canalhas. Ainda por cima, com um mundo inteiro cada vez mais letrado e, ainda assim, cada vez menos instruído, educado e inteligente.
Por nos debatermos com a realidade impura é que somos diferentes. Por isso apelidamos o que nos une de Glorioso e, por isso, contradizendo toda uma Natureza que nos empurra a cada momento para a tentação do caminho mais fácil (algo que é inerente a si mesma), teremos sempre vivo entre nós "um ideal sincero e puro".
De notar que eu tenho perfeita noção que foi dentro de campo que falhámos a maior parte desta época. Sei também que houveram decisões em relação ao plantel que debilitaram as nossas opções. Sei que há mudanças que terão de ocorrer para a próxima época, mas percebo também que não devemos nunca cair na tentação de desejar mudar tudo.
A ideia por detrás do rumo traçado é, por princípio no contexto presente e no contexto de um futuro próximo, a mais adequada para o Benfica. Teremos é de mudar algo na forma como o apoio ao treinador é prestado na construção do plantel e no uso da formação, bem como na forma em como ele é, pessoal e profissionalmente, escudado de uma comunicação social cada vez mais podre e hostil para com o que nós representamos.
Precisamos de um departamento de comunicação que seja capaz de incisivamente, em cada conferência de imprensa, em cada intervenção pública de qualquer interveniente do clube, traçar a linha limite. Há que evitar o desgaste, há que providenciar conforto, há que passar pelos momentos com a comunicação social como quem passa por território sobre fogo inimigo, porque é isso que, de facto, se trata.
Depois, teremos de usar o que já se fez como catapulta para o que se sonha. O Penta não acontecerá desta vez, pelo menos não dentro de campo, mas este passo atrás terá de ser visto como um impulso que nos empurra para a frente. Que seja o momento de reflexão, mas não de revolução.
Pela minha parte, Rui Vitória deve continuar - com o total apoio, não só da estrutura interna, como dos sócios e adeptos. Ninguém é perfeito, e também ele tem bastante responsabilidade no que se passou esta época. Contudo, se protegido, se ajudado, estou convicto que ele é um treinador capaz de continuar a levar-nos à alegria transcendente das vitórias.
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