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Da próxima vez que os Benfiquistas pensarem num "Terceiro-Anelista" para assumir as rédeas do Glorioso, atentem ao exemplo negativo que temos tido com Bruno de Carvalho no Sporting.
O Sport Lisboa e Benfica (tal como os outros rivais, seguramente) ergueu-se, no seu primeiro século de existência, à conta de Presidentes-Adepto: homens idealistas, determinados e com um amor inabalável pelos valores do clube. Contudo, isso só foi possível porque se viviam tempos em que a decência social se sobrepunha ao fanaticismo e à tendência belicista. Hoje em dia, os tempos são outros e um Presidente-Adepto, despido, como referi no post anterior, dessas barreiras sociais, nada mais é que um bêbedo (nem que seja pelo seu poder e posição) que ao invés de estar limitado à tasca onde pode cuspir nos seus bêbedos adversários e degladiar-se com outros seus semelhantes, anda à solta no mundo (que deveria aparentar ser desportivo, pelo menos), com poder suficiente para realmente fazer dano permanente na memória social.
Hoje, a figura de um Presidente de um clube deve ser uma de estabilidade e visão, mas de algum distanciamento. As suas declarações devem acertar no timing e ser sempre um ponto de união de toda a empresa (que todos os clubes são empresas, ao contrário desses outros tempos) e dos seus activos e empregados.
Devemos valorizar e enaltecer as figuras directivas do passado que eram tão adeptos como os seus dirigidos, mas não os devemos romantizar: é que os tempos em que eles foram importantes já não voltam, para o bem e para o mal. Até mesmo gente como eles é parca hoje em dia. Olhem à vossa volta e verifiquem que gente com esses valores já praticamente não existem e, os que existem, não estão em posição de poder vir a dirigir, porque o mundo a que pertencem já morreu.
É triste? É, muito triste. Contudo, todos temos a responsabilidade de entender o mundo em que agora vivemos e o que realmente funciona. A falta de decência social em que vivemos inviabiliza os Presidentes-Adepto, favorecendo, infelizmente, os gestores frios e calculistas.
Infelizmente, o exemplo de Bruno de Carvalho no Sporting deixou isso claro para todos.
O que se passou ontem em Alcochete, na Academia do Sporting Clube de Portugal, foi um dos episódios mais tóxicos do futebol Português, mas, vejo que ninguém na comunicação social é capaz de afirmar, não é incidente sem um precedente facilmente identificável.
A violência é o culminar de todo um processo que despoja a mente de todas as barreiras, fronteiras e regras, por forma a trazer à tona da consciência a condição natural do animal (neste caso humano, mas não exclusivamente). Essa condição natural é violenta, pois num habitat desprovido de protecção civilizacional, esse é o tipo de comportamento que permite sobrevivência.
Bruno de Carvalho (quer consciente, quer inconscientemente) tem vindo a incendiar progressivamente todas as barreiras que travam o regresso à barbárie natural. O auge que se atingiu ontem (veremos se é, realmente, o auge ou se ainda vai piorar) passou por todo um processo em que ele foi provocando as pessoas que lhe prestavam atenção a despir-se do "fardo" moral gradualmente. Nisto, a comunicação social (nada mais que abutres, vivendo da morte e da desgraça - que também ajuda a despir a sociedade dos tais valores) tem tanta ou mais responsabilidade que o próprio Presidente do Sporting, eleito com esmagadora vantagem.
Contudo, não vejo ninguém a apresentar a conclusão lógica e óbvia: é que Bruno de Carvalho é, ele próprio, filho de um processo cultural que promoveu durante décadas não só a legitimação da violência, como da corrupção e do populismo.
Ora, então vejamos:
- Quem é que deu início à integração da ideia extremista de "nós contra eles" no futebol nacional?
Foi José Maria Pedroto, que depois ensinou Pinto da Costa.
- Quem é que pela primeira vez se serviu de um estilo ordinário e provocador, por forma a atrair para si os mais fracos de espírito, que passaram a ver nele o grande general de uma guerra que nem sequer era real, mas que ele inventou para esse fim?
Foi José Maria Pedroto, que depois ensinou Pinto da Costa.
- Quem é que incentivou, promoveu e se serviu de violência organizada para aterrorizar os constituintes das instituições desportivas e de comunicação social que, uma vez despojados pela violência, passaram a ser por si minados?
Foi José Maria Pedroto, que depois ensinou Pinto da Costa e a sua trupe.
- Quem é que legitimou o uso da corrupção no desporto como forma "normal" de gestão?
Foi José Maria Pedroto, que depois ensinou a Pinto da Costa.
Não se pode olhar para o incidente de ontem, na Academia do Sporting em Alcochete sem fazer a óbvia ligação cultural ao incidente do Verão Quente das Antas de 1980, nem ao gradual surgimento do tal processo de ódio que lhe deu origem.
A diferença, óbvia, entre a dupla Pedroto / Pinto da Costa e Bruno de Carvalho é que os primeiros tiveram como objectivo dar sucesso ao seu clube por quaisquer meios, enquanto que o segundo, por fixar o condão da (tentativa de) glória em si mesmo, acabou por revelar tendências auto-destrutivas que arrastam a responsabilidade de uma significativa fatia de sócios do seu clube.
Enquanto não se fizer esta ligação pública e Histórica entre a origem desta cultura e os seus sintomas e produtos finais, a cultura permanecerá, para bem de todos os que se alimentam dela, qual parasitas, destruindo o "corpo" onde residem, e novos e piores "filhos" desse processo destruidor surgirão para incendiar o Amanhã - quiçá, não só no desporto.
de 2016, do Canal do Benfiquista
http://www.abola.pt/Nnh/Noticias/Ver/729497
Tendo em conta o que tem sido o papel da imprensa esta época, no que toca ao aproveitamento e encobrimento de crimes, esta "cimeira", que conta com os três jornais desportivos de maior dimensão em Portugal, é uma das mais abjectas e públicas faltas de vergonha de sempre. A este nível, só aqueles que continuam a desdizer publicamente o que foi dito, gravado e publicado nas escutas do processo Apito Dourado.
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