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Perigo: O derradeiro ataque?

por Ao Colinho do Isaías, em 17.03.15

Quando se deu início à guerrilha norte-sul, por parte de Pedroto e Pinto da Costa, a primeira vítima foi o Sporting. Aquele que era o segundo maior e melhor clube Português sucumbiu mais facilmente aos ataques por ser, precisamente, o segundo maior. Com astúcia e alianças temporárias mas proveitosas, o presidente usurpador de um clube que já se tinha transformado no terceiro grande com muito trabalho e dedicação, conseguia, a pouco e pouco, afastar o segundo para poder tomar-lhe o lugar. Infelizmente, digo-o eu, conseguiu. O Sporting Clube de Portugal sofreu um KO técnico na batalha da década de 80 e não contou com o apoio institucional do Sport Lisboa e Benfica, apoio esse que lhe era devido, na minha opinião, por ser precisamente o rival mais directo e aquele que com mais fervor, competição após competição, acabou por empurrar o próprio crescimento do nosso Glorioso. O Sporting nasceu para, e sempre almejou ser, o principal clube Português - basta ler o seu nome. Contudo, encontrou diante de si um rival que se agigantou sempre perante as adversidades e que soube competir pelos méritos que ambos desejavam. A rivalidade com o Sporting Clube de Portugal edificou - e de que maneira! - a própria grandeza do Sport Lisboa e Benfica, que conseguiu ocupar o tal lugar de nº1 que era tão desejado pelo clube da nobreza.


Em 1980, o Sporting Clube de Portugal ganhou o campeonato. A final da Taça de Portugal dessa época disputar-se-ia entre o Sport Lisboa e Benfica e o Futebol Clube do Porto. Apesar de ainda ser apenas um funcionário da secção de futebol do FC Porto, Pinto da Costa bebia toda a estratégia do treinador Pedroto e começava a conquistar apoio suficiente dentro do clube para preparar o seu golpe traiçoeiro. A ideia de Pedroto era basear toda a motivação para as conquistas do seu clube não numa rivalidade, como até então tinha acontecido entre Benfica e Sporting, mas numa guerra. Na sua visão, o FC Porto representaria não só a cidade mas a região norte inteira e apresentar-se-ia como o único estandarte capaz de defender, e combater por, essa região, pintada nos seus quadros demagogos como eterna, única e injustiçada vítima do poder central do sul. Mostrando-se vítimas do que iriam infligir durante tanto tempo, projectariam nos outros os seus próprios pecados. É claro que para o fazer com maior sucesso, seria essencial aproveitar-se da rivalidade dos dois grandes nacionais, sediados em Lisboa. Foram precisamente essas as bases de todo o crescimento "relâmpago" do Futebol Clube do Porto desde o golpe de Pinto da Costa, no qual afastou, sem apelo ou misericórdia, os seus "inimigos de estado" do próprio clube.

Só que, nesse ano, nem Pinto da Costa tinha ainda tomado o poder, nem o FC Porto aceitava em pleno a visão de Pedroto. A resposta dos dois eternos rivais Benfica e Sporting perante as injúrias e insultos provocatórios vindos da dupla guerrilheira, foi uma união nunca vista - não uma união desportiva, como era habitual na correcção institucional que costumava caracterizar a relação entre os dois clubes, mas uma união ideológica: "Portugal é inteiro, de norte a sul, sem divisões. O SL Benfica e o Sporting CP são clubes de dimensão nacional devido aos seus feitos e à competição entre si. Se o FC Porto quer ser nacional também, que seja bem vindo à competição dentro do desporto, mas nunca poderá sê-lo se se excluir do próprio país que quer que o aceite."

Com esta reacção unida, adeptos do Sporting campeão e do Benfica terceiro classificado deram uma resposta, inequívoca na altura, a Pedroto e Pinto da Costa.

 
Foi a última vez. A partir do momento em que o golpe ocorreu no seio do clube Portista, a argúcia ambiciosa e desregrada do novo líder conseguiu afastar os dois rivais, atirando o elo mais fraco para um jejum de vitórias considerável, tendo em conta o que fora até então a História dos leões (curiosamente iniciado no ano em que Pinto da Costa assumiu o trono no Porto). Como o Sport Lisboa e Benfica ainda ia ganhando, agora a meias com este novo Futebol Clube do Porto, os Benfiquistas focaram-se cada vez mais na guerrilha com este novo poder azul e branco, esquecendo-se da importância que teve e terá sempre, para si mesmo, o seu verdadeiro rival. Esse esquecimento Benfiquista, ainda por cima pavoneando a ausência de vitórias perante o orgulho Sportinguista, acabou por azedar o rival verde e branco e extremar a sua posição quanto ao seu rival genuíno.

Os anos 90 foram o que se viu, com a tomada de assalto do poder no futebol nacional por Pinto da Costa e o afundamento do Sporting Clube de Portugal, a nível de títulos conquistados mas nunca na sua estatura, para o terceiro posto. Também o Sport Lisboa e Benfica se afundou, como todos sabemos, nessa década. O campeonato tão brilhantemente conquistado em 94 iniciou um período de 11 anos sem que o futebol Benfiquista se pudesse afirmar perante o poder instituido que, se tornara já também, um poder futebolístico dentro de campo e não só fora.


Relembrei tudo isto porque quando Manuel Vilarinho, que trouxe Luís Filipe Vieira, foi eleito, passou-se a ideia de que o Glorioso estava renascido e que iria agora tomar o seu devido lugar. Vilarinho saíu, entrou Vieira para a presidência e, mais uma vez, se clamava que o Benfica regressara. O campeonato bastante atípico, ainda que bravamente conquistado, de 2005, precedido da vitória na Taça de Portugal da época anterior, parecia assinalar uma vez mais o acordar do gigante atordoado. Contudo, durante os quatro anos seguintes continuámos a assistir ao passeio do poder Portista e a diversos "tiros no pé" por parte do nosso clube.


Depois, chegou Jorge Jesus ao Benfica. De imediato conquistou os corações dos Benfiquistas e guiou com competência um plantel que deixaria dúvidas a muitos ao título no seu primeiro ano. Era desta. Estava de volta a Águia e o Sport Lisboa e Benfica voltaria a ocupar o seu lugar devido. Não. O Futebol Clube do Porto, ou melhor dizendo, Pinto da Costa, estava ainda bem vivo e segurava ainda as rédeas todas - seguiu-se um "tri" Portista.
Vencemos o campeonato na época passada e temos na mão a possibilidade de um "bi", mas não se pense que tudo mudou. Aliás, esta campanha mentirosa do "colinho" encaixa perfeitamente na filosofia estratégica de Pinto da Costa, muito mais que na de qualquer Sportinguista, por muito que tenham vindo a ser usados como arma de arremesso contra os seus verdadeiros rivais. Só que Pinto da Costa está velho, já se nota, e é ainda uma incógnita se a máquina que montou à sua volta sobreviverá à sua "queda da cadeira". O que me parece um evidente sinal de Perigo é que esta campanha, aliada à forma natural demais com que um Luís Filipe Vieira, sem margem de manobra pessoal para outra decisão dados os seus próprios "esqueletos no ármario", negoceia e se alinha com Pinto da Costa. Quem os vir sentados à mesma mesa até poderá pensar que tudo o que se passou na História dos últimos 30 anos do futebol Português foi obra de ficção. A forma como Vieira parece estar algemado nesta situação é deveras preocupante. E este é que é, talvez, o derradeiro ataque de Pinto da Costa, antes de sair de cena, ao alvo que nunca conseguiu abater:


o Sport Lisboa e Benfica.

É que há que ter em conta o modo como um guerrilheiro pensa:

“O ódio como factor de luta: o ódio intransigente ao inimigo, que impulsiona mais além das limitações naturais do ser humano e o converte numa efectiva, violenta, selectiva e fria máquina de matar. Os nossos soldados têm que ser assim; um povo sem ódio não pode triunfar sobre um inimigo brutal.
Há que levar a guerra até onde o inimigo a leve: à sua casa, aos seus lugares de diversão; fazê-la total. Há que impedir-lhe de ter um minuto de tranquilidade, um minuto de sossego fora dos seus quartéis, e ainda dentro dos mesmos: atacá-lo onde quer que se encontrar; fazê-lo sentir uma fera acossada por cada lugar que transitar.”

(CHE GUEVARA, 1967)

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rematado às 11:35




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