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"E quem não salta é Lampião!"

por Ao Colinho do Isaías, em 10.08.15

Foi cantando a frase apresentada no título deste artigo que o Sporting, tendo ganho limpo ao Benfica no jogo jogado em campo, diga-se, festejou a conquista da Supertaça. Vimos um Sporting a jogar à Benfica, sem dúvida, e foi para isso que o treinador Jorge Jesus foi contratado - ele é, sem dúvida, um grande treinador de campo, um "montador de equipas", com o seu modelo funcional. Uma vez mais, o Sporting festeja não uma conquista sua, mas uma conquista ao Benfica: Foi buscar o treinador ao Benfica, para pôr a equipa a jogar à Benfica, para ganhar ao Benfica.

Só que, há que admiti-lo, percebo hoje que Jesus encaixa muito melhor no Sporting do que alguma vez encaixou no Benfica. É que também ele, tal como o clube, vive a obsessão pela grandeza do Glorioso - ainda para mais, tendo passado cá seis anos, tendo-a visto e sentido na primeira pessoa. Todo o seu discurso, desde que chegou ao Sporting, tendo vindo directamente do Benfica, foi alinhado com a atitude mental "do pior que há no Sporting" - assim apelidava o meu falecido pai, Sportinguista de gêma, a relação de inveja do Sporting em relação ao Benfica, causada pelo sentimento do que o Sporting "devia ter sido". O Sporting foi criado com a ideia de ser grande, "ao nível dos maiores da Europa", mas foi o Benfica que foi conquistando esse estatuto pelos campos jogados, deixando a equipa de Alvalade com um ressentimento de "destino roubado".
O meu pai, que representava uma estirpe quase extinta de Leões, foi sempre respeitador do Benfica (mesmo quando os filhos, ambos Benfiquistas, por infantilidade própria de certas idades, gozaram com as suas derrotas). Ele respeitava o Glorioso porque sabia que não bastava querer ser o maior, havia que realmente sê-lo. Ele sabia que nenhuma das vitórias do Benfica tinham sido um "destino roubado", pois elas significaram apenas que o Sporting não tinha sido suficientemente competente para vencer. Esta visão colocou-o algumas vezes em colisão com outros Sportinguistas, incapazes de assumir que, Historicamente, o Sporting fora, no geral, menos competente que o Benfica no "ombro-a-ombro". E foi, é e será essa rivalidade o que empurra o Benfica para a vitória, não se duvide - não no sentido de bastar "ganhar ao Sporting" (ao contrário do que se tornou referência mental para parte dos Sportinguistas actuais: bastar "ganhar ao Benfica") - mas no sentido de querer ser o melhor e por isso vencer os adversários e as adversidades, ou seja, superar-se.

Jorge Jesus, que nunca escondeu ser Sportinguista, demonstrou pertencer àquela parcela de mentalidade que diminui o clube de Alvalade para uma dimensão de, por exemplo, um Belenenses (e se os tempos fossem outros, não seria de admirar ver Jorge Jesus, à semelhança de Artur José Pereira, daqui a uns tempos pedir ao Sporting para sair, por forma a fundar o seu próprio clube...). Ele menoriza o clube pois coloca a sua figura acima deste, afirmando que agora é que o Sporting é candidato ao título (com ele) e que tudo o que existe agora no Benfica foi criação dele (o que não é afirmação nova, como o Braga bem sabe). Da mesma forma que me senti envergonhado, sinceramente, quando Jesus diminuiu o Benfica com as mesmas afirmações em relação ao Braga, os Sportinguistas deveriam compreender o que estas palavras querem dizer em relação ao seu clube. Só que, se Jorge Jesus for apresentando resultados, isso passará para segundo plano no universo dos adeptos do Sporting... até ao dia em que o ego de Jesus, o soberbo, considerar que o clube que lhe deu condições, estabilidade e dinheiro ficou para trás em comparação com o reflexo da sua imagem no espelho. De facto, para diminuir mais ainda o Sporting, só faltou a Jesus, que ainda há parcos meses festejava o Bi-Campenato entre Benfiquistas, saltar enquanto cantava com os adeptos do Sporting "E quem não salta é lampião!". Ah, mas conseguiu fazer ainda pior, é verdade. Conseguiu provocar Jonas e esperar que ele levasse "na brincadeira" porque, afinal, tinha sido Ele, Jorge Jesus, o Maior, a "cumprimentá-lo". Ora digam-me lá se a palmada que se vê nas imagens e o "qu'é q'foi?" característico de Jesus é qualquer outra coisa que não uma provocação:


Jonas aguentou-se, ciente das câmaras, mas não se ficou, aparentemente:

http://rr.sapo.pt/bolabranca_detalhe.aspx?fid=47&did=195799

Se tudo fosse ao contrário, se o treinador que passara seis anos no Sporting tivesse assinado pelo Benfica e vencido a Supertaça, será que a Sporting TV passaria a sua conferência de imprensa a seguir ao jogo? Pois, se calhar não, especialmente com Bruno de Carvalho. Um dos pontos positivos da BTV neste "pós-jogo": foi absolutamente imparcial e profissional.

E da bola? Bom, falando da bola, perdemos com justiça. Houve um golo mal anulado para um lado, um penalty por assinalar para o outro e ainda um "chouriço" a fazer a diferença, mas foi sempre o Sporting que revelou mais argumentos futebolísticos. O Benfica podia ter ganho até, note-se, mas foi daqueles jogos em que o vencedor foi quem jogou melhor. O Benfica tem muito trabalho pela frente, muitas mudanças a fazer no seu estilo de jogo, se quer de facto competir com a grandeza do seu passado.
No entanto, nem tudo foi negativo: Nélson Semedo ganhou a titularidade. Lizandro colocou um problema a Jardel e Luisão, afirmando-se. Pouca consolação, mas importantes notas para a época que agora começa.


Penso que Rui Vitória deverá impôr as suas ideias e largar de vez quaisquer fantasmas que os jogadores possam ter em relação ao sistema que costumava ser de Jorge Jesus. Que jogue em 4-3-3, como gosta, ou 4-2-3-1. O 4-4-2 pode ser recurso de ocasião, com resultados desfavoráveis, mas penso que deve haver por parte do treinador do Benfica, nesta fase, uma imposição total das suas ideias e cortar de todo com o que possa ainda assombrar o jogo da equipa já tão ferida por este defeso.
É certo que num 4-3-3, Jonas terá de ficar no banco (por muito que custe), sendo Mitroglou o ponta-de-lança com características para fazer jogar o ataque, sozinho lá na frente. Neste esquema, será essencial um transportador de bola, pelo que seria positivo não descartar Djuricic, pois Pizzi não cumpre essa função tão bem. Talisca é hipótese, mas tem de se expôr ao jogo, pedir a bola, e não andar escondido.
Em 4-2-3-1, Jonas pode jogar atrás de Mitroglou e transportar a bola, sendo não só um segundo ponta de lança, como uma referência para o início das jogadas de ataque com bolas rente à relva, lateralizando depois para as investidas dos alas. Se for esse o caso, é ainda importante que seja Pizzi e não Samaris, a jogar ao lado de Fejsa, para garantir a inversão do triângulo do meio campo logo que se parte para o ataque.
Há também a possibilidade 4-2-2-2, que foi testada e funcionou em 45 minutos contra o PSG, mas esse esquema pressupõe a manutenção de Gaitán ou a aposta assumida em Djuricic (e/ou Taarabt, assim que esteja em forma). É fundamental também um lateral esquerdo que dê profundidade e alternativa no ataque, defendendo também com competência!

Enfim, tudo conversa de "treinador de bancada".

O que se exige a Rui Vitória é que monte uma equipa competitiva, que honre a camisola e o peso histórico que representa. Ajudará se ele se impuser e cortar de vez com o fantasma Jesus dentro do próprio balneário. Terá ele personalidade para o conseguir?

 

Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.

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rematado às 10:17




6 comentários

De TimtimTim a 10.08.2015 às 14:52

Os Benfiquistas não se conformam mesmo. Deixem o JJ em paz.

De Ao Colinho do Isaías a 10.08.2015 às 15:31

Cara TimTim,

Os Benfiquistas até têm direito a este período de resolução em relação a Jorge Jesus depois do que se passou, convenhamos.

No entanto, a questão fulcral do artigo, se o leu, é precisamente o facto de que é o Sporting e os Sportinguistas que não deixaram, deixam ou deixarão (?) alguma vez o Benfica em paz.

"E quem não salta é lampião!" - ainda por cima cantado numa vitória (e nem precisa de ser diante do Benfica, veja-se a final da Taça de Portugal com o Braga) é precisamente o hino representativo da postura do Sporting perante a História da rivalidade com o Benfica. Jogue onde jogar, o Sporting tem sempre o Benfica dentro de si e à sua frente.

Parabéns pela Supertaça.
Cumprimentos,
Isaías

De Andre a 10.08.2015 às 16:37

Não vejo problema nenhum nisto. Como sportinguista, sempre tive um grande respeito e admiração pelo Benfica. É o tipo de rival que faz com que queiramos dar o melhor de nós mesmos.

De Ao Colinho do Isaías a 10.08.2015 às 16:50

Caro André,

E essa é que é a atitude salutar: competir para exceder-se, superar-se.
Estamos de acordo, aí.

No entanto, para um Sportinguista pensar a cada vitória (ou derrota) no Benfica é vincar uma ideia de dimensão relativa - algo que não era, de todo, o intento dos fundadores do Sporting.

Cumprimentos,
Isaías

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