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Interessantes revelações de Carlos Queiroz

por Ao Colinho do Isaías, em 25.06.17

Carlos Queiroz, actual seleccionador do Irão, antigo seleccionador de Portugal e treinador do Sporting e do Real Madrid, para além de adjunto do Ferguson no Manchester United, deu uma entrevista bastante aberta e interessante. Eis alguns excertos interessantes:


(...)

Mas se era adjunto no Estoril e já treinava seniores, porque decidiu voltar à formação?
A formação só servia de trampolim, para dar o salto para os seniores, e eu também queria isso: ser treinador principal de um clube. Só que... Fui convidado pelo José Augusto para trabalhar na Federação — ele era o lado prático, eu era o lado académico. O Jesualdo Ferreira também me tentou convencer. Eu já estava no futebol profissional e aquilo representava voltar para trás; mas fui convencido. E fiquei por lá 10 anos.

E o que encontrou?
Era tudo muito rudimentar e o Carlos Queiroz criou uma aberração chamada “Departamento Técnico de Futebol” [ironia]. A FPF tinha tudo menos uma coisa — o futebol, que era um departamento subsidiário do departamento financeiro, jurídico, etc. Não havia ninguém dedicado a pensar no futebol. Quando falei nisso, houve gente a dizer: “Então, mas agora vamos ter duas federações aqui dentro? Este gajo quer é mandar nisto.” Eu só queria ter autonomia para gerir, pensar e planear o futebol. Estava tudo acomodado e agarrado a lugares, e eu mexi com isso. Há um episódio curioso que tem a ver com o projeto de reestruturação do futebol português que eu apresentei. Um dos pontos era sobre a redução do número de equipas que iriam disputar a primeira divisão. Entrevistei todos os presidentes dos clubes — Pimenta Machado, Pinto da Costa incluídos — e a maioria concordou com a redução. Tenho os documentos que provam o que eles diziam: “Mais de 14 é uma loucura para um país como o nosso.” Alguns dos que concordaram com isso nas entrevistas privadas foram os primeiros que se puseram contra mim publicamente.

Porquê?
Porque a redução do número de clubes implica uma redução do número de votos por associação nas assembleias gerais, provocando um desequilíbrio no jogo de poderes. E havia muitos jogos de poderes e de interesses. Por exemplo: estava nos estatutos da FPF que a associação maioritária indicava o nome do presidente da Federação. Durante anos, de uma forma generosa e simpática, a associação mais representada [a do Porto] dizia: “Somos tão amigos, vocês de Lisboa que escolham o presidente, sim?” Porquê? Porque a segunda figura a ser escolhida era o presidente da arbitragem. [silêncio] Depois os de Lisboa falavam em “bandidos” e em “sistema?” E eu, treinadorzinho, assistia àquilo tudo e fazia perguntas incómodas.


(...)

Chegou a falar com o João Vieira Pinto sobre o 6-3 de Alvalade?
Andei eu a trabalhar o João Vieira Pinto para ele me fazer aquilo [risos]. Mas, olha, esse jogo não foi perdido em Alvalade. Caiu para o lado do Benfica, mas começámos a perder o dérbi quando, duas semanas antes, expulsaram três jogadores do Sporting, nas Antas: Juskowiak, Peixe e Vujacic. Os dois primeiros não jogaram contra o Benfica, porque apanharam dois jogos de castigo. Fala-se muito no sistema hoje, mas com tantas televisões, repetições, análises... O sistema? Sistema vivi eu, isto hoje é queijo fresco [silêncio]. E mais não digo.


(...)

Mas o episódio mais negativo e que o atira para fora de pé, aconteceu com o doping.
O caso do doping só se soube duas semanas depois de Portugal ter regressado do Mundial. O secretário de Estado do desporto [Laurentino Dias] do primeiro-ministro José Sócrates veio para a praça pública condenar o Carlos Queiroz. Foi uma construção imaginativa de meia dúzia de jornalistas que trataram o acidente do Nani de forma vergonhosa: o Nani lesionou-se, partiu uma clavícula após um pontapé de bicicleta que correu mal, mas disseram que o Carlos Queiroz estava a encobrir um caso de doping para proteger um ex-jogador do Manchester United. Havia coisas, rumores a correr nos bastidores.

Que rumores?
Que havia dois incidentes com o sistema antidoping português. Um deles, que tinha havido um problema na Covilhã, com um controlo; eu não sabia que era o único português que dizia palavrões [Carlos Queiroz insultou Luís Horta, presidente da Autoridade Antidopagem na altura]. Outro, que havia um jogador com doping e, quando o Nani se lesionou, acharam logo que era ele — e não era. O que eu devia ter feito, logo antes de partir para o Mundial, era ter testemunhado o que se passava; houve uma pessoa, o médico Gomes Pereira [do Sporting] que me pediu desculpa por não me poder ajudar porque o seu trabalho ficaria em risco se o fizesse. Mas ele e eu podíamos ter dito porque é que Luís Horta estava tão obcecado em fazer controlos antidoping sucessivos à seleção nacional, de forma exagerada; duas equipas a controlar na Covilhã, às seis e meia da manhã, coisa que a FIFA não deixava. Ele estava obstinado em apanhar um jogador que estava convocado.

Que era do Sporting.
Sim.

Quem?
Era o Liedson. Há factos registados e isto pode ser comprovado. O Liedson tinha feito um controlo casuístico e tinha vestígios de nandrolona. O médico Gomes Pereira pediu, depois, outro controlo voluntário antes da convocatória, e o Liedson foi ilibado. O Luís Horta aparece às seis da manhã na Covilhã, com os jogadores a dormirem e o jogo com Cabo Verde era nesse dia; eu quis intervir, pedir para deixar os jogadores dormirem mais um pouco, tal como a FIFA recomendava. Estive mal, mas naturalmente nunca quis insultar a mãe de Luís Horta.

E esse foi o fundamento legal para o despedirem, é isso?
Sim, despedimento com justa causa por causa do palavrão. Só que o advogado de trabalho da FPF dizia-me que aquilo não tinha fundamento. E como não havia fundamento para justa causa, reescreveram-se os relatórios dos controlos antidoping. Eu vi um e-mail de um dos médicos enviado a Luís Horta a perguntar se assim aquilo ficava bem, ou se era preciso acrescentar mais alguma coisa. Ao ponto que aquilo chegou: queriam provar que eu tinha impedido o controlo para me poderem despedir.

E o papel de Gilberto Madaíl nesse momento?
Há dois Gilberto Madaíl — e não vou dizer como o Manuel José, que diz que há um Gilberto antes do almoço e outro depois do almoço. Para mim, há um Gilberto Madaíl que me convida para a seleção, que esteve sempre presente, do meu lado; e, depois, há outro Gilberto que me despede através de outras pessoas, não teve a coragem de me olhar nos olhos. Primeiro, disse-me: “Só preciso da sua versão, vamos estar juntos até ao final.” Até que deixou de estar ao meu lado. O doutor Gilberto Madaíl mudou de opinião por outras razões. O doutor João Rodrigues [antigo presidente da FPF] disse-me isto, em casa, à frente de família: “Estou a falar-lhe como um pai, fuja do país, leve a sua família, eu é que o conheço. Se fosse o meu filho, eu punha-o no estrangeiro.” O doutor João Rodrigues era íntimo do Gilberto Madaíl e do partido [Partido Socialista].

Tentaram um acordo consigo?
Começaram-me a oferecer dinheiro: 250 mil euros, passaram para os 500 mil, acabaram no milhão de euros. Queriam calar-me. Eu disse: “Não quero dinheiro, quero é que limpem o meu nome.” Aquilo ia manchar a minha carreira, porque a palavra doping tem peso. Eu perdi um contrato com a seleção japonesa e outro com a África do Sul para defender o meu nome. Falei com Laurentino Dias e o Governo foi irredutível.

E qual era o interesse do Governo em afastá-lo?
Houve coisas, pormenores, episódios. Parece que cometi um crime político: eu tinha desafiado a autoridade política do Governo português. Por colocar em causa a autoridade da ADoP. Depois do gajo que assaltou o “Santa Maria”, eu podia ter sido o primeiro político de Portugal. Enfim. O senhor Amândio de Carvalho pôs a correr um rumor de que eu tinha cancelado o jantar da equipa depois do jogo com a Espanha... E isso fez parte do processo de acusação. Como se eu fosse proibir os jogadores de comer.


(...)

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rematado às 19:26





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