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Os diversos Benficas do Glorioso

por Ao Colinho do Isaías, em 02.09.17

Acompanho, conforme o meu tempo me permite, o blogue Novo Geração Benfica, por ter como autores pessoas que são apaixonados Benfiquistas, com opiniões tão díspares quanto o alcance das asas bem abertas da Águia no símbolo do Glorioso.

 

Algo me aconteceu, pessoalmente (e que não revelarei aqui), há dois anos, com a conquista do Tri, que fez a minha postura perante o Benfica actual alterar-se. Como entendo, em primeira mão, a profundidade das preocupações de alguns dos Benfiquistas que escrevem nesse blogue (bem como noutros, diga-se), decido agora escrever algo breve sobre essa visão do Benfica e de como o clube é gerido actualmente, que tenho uns minutos antes da Supertaça de Futsal.

 

A questão é que não foi o Benfica que mudou desde os saudosos tempos do Eusébio, do Coluna e de toda aquela constelação Mística. Foi o mundo. Aliás, o mundo Português começou a mudar com atraso, só em 1974, quando noutros países essa mudança já se tinha feito sentir. Não estou a classificar essa mudança como "boa" ou "má", pois isso não é conversa para aqui chamada. O facto é que o mundo em si mudou drástica e repentinamente nos últimos 50 anos e para uma significativa fatia dos Benfiquistas essa mudança, em particular após a depressão dos 1990's e 2000's, não foi possível de assimilar devidamente. A posição de Portugal no mundo alterou da noite para o dia, a sua importância económica e estratégica também. A descolonização secou o principal viveiro de talento do Sport Lisboa e Benfica, tanto ou mais do que quando surgiram o Casa Pia Atlético Clube e o Clube de Futebol "Os Belenenses" nos anos 20. No entanto, só em 1979 é que o Benfica se começou a adaptar a uma realidade cada vez mais evidente: que o futebol iria deixar de ser um desporto e passaria a ser um negócio, tão competitivo e desleal como os outros negócios todos.

 

Hoje vive-se na época dos 200 e tal milhões do Neymar, com dinheiro do petróleo, precedente aberto pelo magnata Russo do Chelsea e, por isso, o peso do Benfica no mundo de futebol, ainda que mágico na capacidade que tem de chegar a todos os cantos do mundo, é muito inferior do que era há 50 anos.

 

Ao fim deste tempo todo, o Benfica vive agora uma nova página da sua História, imerso num mundo cada vez mais incivilizado, sediado num país cada vez mais desprovido do seu carácter, do seu amor-próprio e da sua força estratégica - num país cada vez mais ajoelhado às forças de um Império que, ao contrário de Roma, não se manifesta com estandartes nem com armas.

 

No futebol dentro do campo, o empate com o Rio Ave (que até nem foi nenhum resultado desastroso, porque o Rio Ave é, neste momento, o 4º clube do futebol Português a nível estrutural, na minha opinião) trouxe à tona as inseguranças todas que parte dos Benfiquistas tem sempre perto de si, como aquela fotografia do momento que queremos esquecer, mas que guardamos no álbum mais precioso. Passámos a ter que refazer o plantel de alto a baixo, porque temos de ganhar os jogos todos - comparando com um tempo em que os clubes periféricos mal tinham campo de treinos, quanto mais equipa para se bater com o profissionalismo que o Benfica já evidenciava nos 60's. Empatámos este e perderemos mais pontos noutros jogos. Os grandes já não jogam sozinhos. Mais a mais, o Benfica já não é visto como grande na UEFA, a par por exemplo, de um Chelsea, devido à sua posição. O Histórico serve os puros e os românticos, mas a UEFA e os parasitas que gravitam à volta do futebol não querem saber disso, apenas do poder.

 

Colocado num mundo assim, quem neste momento traçou um Sport Lisboa e Benfica com este tipo de gestão adaptou-se aos parasitas (mesmo que se opine que o faça por simpatia com eles) por forma a adaptar o clube ao que aqui está e ao que aí vem. Para isso, Rui Vitória é o homem certo - pela sua inteligência, postura, visão e capacidade de gestão pessoal - e, por consequência, também o é o mercador Luís Filipe Vieira.

 

Da mesma forma que o Sport Lisboa e Benfica teria ficado pelo caminho se a ideologia pura de Cosme Damião (um dos originais Benfiquistas) tivesse vencido a adaptativa de Ribeiro dos Reis, também o Benfica ideológico que nos deixa saudades lá atrás seria um farol apagado sem esta mudança no mundo material.

 

Afinal, o "Espírito" do Glorioso (esse sempre puro) necessita de um "Corpo" forte para residir e continuar a Iluminar-nos à transcendência que todos procuramos, em cada jogo, nos relvados pelo mundo fora onde saltitam as papoilas berrantes que nos apaixonam profundamente.

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rematado às 13:52




4 comentários

De Ao Colinho do Isaías a 02.09.2017 às 17:45

Caro A. Reis,

Grato pelo comentário. Entendo bem as dúvidas e considero que todas são legítimas.
Digo-lhe até que não gosto, pessoalmente, de Luís Filipe Vieira. Não gosto do tipo de pessoa. Contudo, eu não gosto deste tipo de pessoa que hoje em dia pulula cada vez mais pelo mundo e com sucesso. Logo, não é particularmente de Vieira que eu não gosto, é do homem moderno (pelo menos o de negócios).

Ainda assim, para este mundo, esta incarnação do Glorioso (servindo-me da metáfora), é a adequada para o que está e para o que virá. Nem sempre se vencerá na competição, mas, estruturalmente, este "corpo" tem mais saúde para sobreviver à doença do mundo onde está inserido.

Contudo, Vieira encontrou em Rui Vitória a chave da Mística, puxando para si mesmo a chave dos negócios. É que Vieira percebeu que não se pode opor à força da onda social sem ser esmagado, por isso, decidiu cedo participar nela. Quis fazer desta "nau Benfica" um navio capaz de navegar a tal onda gigante e avassaladora. Dentro desta nau, está Rui Vitória, mantendo a tripulação focada e a Luz acesa.

As reservas que temos quanto ao plantel são legítimas e cada um de nós tem a sua opinião. Podemos e devemos expressá-las. Devemos, contudo, não fazer o trabalho dos nossos adversários. Eles sondam a cada momento a brechazinha para tentar invadir-nos e é isto que observamos: o Eliseu é o Paulinho Santos afinal, este plantel nem à UEFA dá para ir, o Douglas é coxo, o Gabigol é um acabado aos 20 anos, os putos da formação não servem e o Seferovic, como não marcou ao Rio Ave, já não vale nada.

Sabe, opinião minha, mas nisto do futebol, que é um desporto repleto de ciência, requer também muita fé! :-)

Cumprimentos!
A.do Isaías

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