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Reflexões sobre o SC Braga e a História do futeluso

por Ao Colinho do Isaías, em 23.05.16

As aspirações de António Salvador em promover o seu Sporting Clube de Braga para um estatuto superior são perfeitamente legítimas. É um homem ambicioso e claramente dedicado ao seu clube, quer se goste dele ou não.

Depois da habitual ironia caustica antes do jogo, em que achou bem lançar umas "bocas" aos rivais que não estavam na final, o presidente do FC Porto tem mantido um estranho e constrangedor silêncio após a derrota. É que vejamos: Pinto da Costa surgiu no Futebol Clube de Porto como o arauto de uma necessidade de combater o "imperialismo" Lisboeta, em particular do Sport Lisboa e Benfica (apenas porque era o que mais ganhava na altura, nada mais). Tomou de assalto o poder no seu clube (literalmente, como se sabe) e desde então que mantém o seu discurso coerente (apesar de absurdo) no qual afirma que o FC Porto é a "alternativa do norte ao centralismo do sul".

É óbvio, para quem tiver olhos para ver sem ser turvado por clubismos ou sentimentos regionalistas, que este discurso não tem sentido. Em primeiro lugar, o Sport Lisboa e Benfica não é um clube imperialista ou centralista, é sim um clube com uma ética de esforço e superação Histórica que lhe permitiu obter imensas vitórias, o que o torna num clube cativante - daí ser o clube com maior número de adeptos, não só em Portugal. De notar que o Benfica surge sem qualquer ideia de identificação local ou regional. Tinha o nome de Lisboa, tinha o nome de Benfica, mas não queria suportar-se numa representação local ou regional. Sempre quis ser maior e abrangente, recusou sempre definições que o limitassem ao local do seu nascimento, apesar de nunca renunciá-lo.

Pelo contrário, é o Sporting Clube de Portugal que nasceu desde logo com o intuito de ser representante (qual "clube único") de uma ideia de união nacional em torno de um clube que fosse a bandeira de Portugal no estrangeiro. A sua origem aristocrata e o seu mote fundador são sinais evidentes desse intento. O Sporting não contou foi com o facto de que a vitória, a glória e o carisma não são obtidos por decreto, nem tão pouco se compram. Deparando-se com um chato empecilho encarnado, com o nome pobre e plebeu de Benfica e que não negava a sua origem em Lisboa (ainda hoje é um problema para o Sporting ser associado a Lisboa no estrangeiro, por se considerar, à nascença, nacional), o clube de Alvalade procurou impôr-se pelo poder financeiro dos seus fundadores e pela ideia de que o que o Benfica tinha e conquistava, era, por direito inerente à sua condição de nascença, seu. Daí que tantos tivessem sido os jogadores e treinadores aliciados pelo Sporting após terem mostrado valor no Benfica - o Benfica não tinha o direito de ter os melhores, porque esses pertenciam ao Sporting por decreto.

Só que o Benfica, munido, como disse, de uma ética de esforço e superação incríveis, uniu-se sob a ideia de que o desporto era um mundo onde o poder político e financeiro não ditavam vencedores antecipados. Por isso é que, apesar de tantas vezes dado como ultrapassado ou derrotado, o Benfica se reergueu, sempre mais forte, pelo esforço e dedicação dos seus simpatizantes e sócios interventivos. O Sporting foi sendo consecutivamente atirado para segundo plano, quando julgava seu o direito de ser primeiro - é daqui que advém o sentimento dos Sportinguistas de que há um eterno "roubo" por parte do Benfica, a origem da questão é de que se trata de um "destino roubado", na realidade.


Posto isto, seria de esperar que o Futebol Clube do Porto, clube que nasceu para representar orgulhosamente a região da sua cidade, tivesse mais admiração pelo Sport Lisboa e Benfica que pelo Sporting Clube de Portugal - o que se verificou, de facto, durante décadas de rivalidade sadia e admiração mútua (como o provam, por exemplo, as inaugurações de ambos os Históricos estádios, tendo o Benfica participado na inauguração das Antas e o Porto na inauguração da Luz). Essa admiração advinha precisamente do facto de que o Benfica, à semelhança do Porto, era sustentado e engrandecido pelo orgulhoso trabalho dos seus sócios e não por uma ideia de direito à vitória, como era apanágio do Sporting.

Só que o Futebol Clube do Porto tinha, à partida, um limitador que não estava presente em nenhum dos outros dois clubes: a assumida representação da sua cidade como valor máximo da sua vontade de vencer. Este é que foi o verdadeiro limitador do FC Porto na sua ascensão perante o Benfica e o Sporting e não a adulteração histórica que Pinto da Costa promoveu, quando acusou os rivais de origem Lisboeta de vencerem pelo poder instituído. O que proporcionou a explosão vitoriosa do FC Porto após a chegada de Pinto da Costa e Pedroto foi que, com a liberdade da revolução, chegaram também "outras liberdades" a que o país não estava habituado e com as quais não sabia lidar. Nem todos os Portistas são Pintistas, por este motivo.

Assim, é de facto de estranhar que Pinto da Costa não tenha dado os parabéns ao Sporting Clube de Braga pela vitória na Taça de Portugal. O Braga é um clube do norte, da região que ele pretendia que o seu Porto representasse contra o "centralismo de Lisboa" e, por isso, uma parte de uma vitória sua, seguramente? Só que António Salvador e os Braguistas já há muito entenderam que para o presidente do FC Porto esse discurso de simpatia pelos outros clubes "do norte" só se aplica quando estes são subservientes aos interesses verdadeiramente centralistas de Pinto da Costa e, particularmente, só quando não ganham ao FC Porto. Há muito que se pode atribuir na promoção impressionante de clubes do norte à Primeira Liga, em particular daqueles possuidores de poucos sócios e de ainda menos recursos, a esta rede de interesses que ele soube montar, apelando a essa ideia de "clube único do norte", ao longo de quarenta anos do presidente do FC Porto. Já para não referir a adulteração e desrespeito dele para com a História do seu clube, o que, de fundo, envergonha os verdadeiros Portistas em relação a Pinto da Costa.

O SC Braga tem aspirações legítimas e tem todo o direito de lutar e trabalhar por elas. Muitas vezes, o seu presidente é deselegante e tem tiques reprováveis. No entanto, o que verdadeiramente pode assustar Pinto da Costa e, talvez, os Pintistas mais atentos é que o Braga pode vir a ocupar um dia o lugar que já foi do "antigo" FC Porto: o Braga é um clube com uma imagem muito menos fustigada pela atitude polémica e belicosa que deu força ao Porto e pode, por isso, se se mantiver por muito mais tempo o naufrágio Portista como nos últimos três anos, passar a ocupar a posição de grande clube da região. Ainda para mais, com cada vez mais interesse gerado, mais adeptos e mais sustentada e sólida presença na Europa... Grão a grão...

Só espero que o Sporting Clube de Braga, se de facto vier um dia a cumprir essa profecia, não lhe siga o exemplo. Penso que os Braguistas também não o desejam.

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rematado às 14:12




2 comentários

De António Madeira a 24.05.2016 às 23:55

Parabéns por este excelente artigo. Comunga precisamente daquilo que eu penso em relação ao que se passa mais a norte...
Há muito que sigo o "Ao Colinho do Isaías" e este é um dos melhores dos últimos tempos.

Já agora, deixo um vídeo que certamente será do seu agrado e que descobri apenas ontem:
https://www.youtube.com/watch?v=xt27EL9PnNE

Forte abraço benfiquista.


De Ao Colinho do Isaías a 25.05.2016 às 08:19

Caro António Madeira,

Grato pela suas palavras de apreço!

Vou dar destaque a este vídeo, pois com certeza! :-)

Cumprimentos!
Isaías

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