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O jogo de ontem começou bem, mas apresentou inexplicáveis nuvens do fantasma axadrezado da semana anterior. Perante um Tondela bem organizado defensivamente, tentando ser letal nas suas parcas investidas (e quase o foi, se o avançado que bateu Ederson não tivesse estado em fora-de-jogo), a equipa deixou-se abater, abalar um pouco pelas dificuldades, e complicava o que acabou por tornar simples na segunda parte.
A substituição de Cervi não teve a ver com o seu desempenho, a meu ver. Foi uma troca da explosão pura pela experiência que o jogo pedia - experiência essa de Salvio que acabou por libertar dois jogadores amarrados até então: Pizzi e Nélson Semedo.
Rui Vitória terá visto o que nós, os "misters" da bancada, provavelmente não vimos: que a baixa produção de Pizzi na primeira parte advinha da incorrecta ocupação dos espaços por parte dos alas, que tornavam a tarefa de distribuição, que o nosso número 21 desempenha, muito mais difícil. O Tondela organizou-se bem, sim, mas era o Benfica que estava a ser o seu próprio empecilho. A entrada de Salvio colmatou essa lacuna (e eu estava entre aqueles que um ano antes pensava que a utilidade do Salvio estava acabada, após a complicada lesão).
Foi um Benfica diferente e um Tondela que não soube adaptar-se à diferença, pois por mais bem organizada que uma equipa esteja pelo treino, é por norma a inteligência e visão dos jogadores que mais diferença faz entre grandes e pequenos. A partir daí, só deu Benfica e sabia-se que era uma questão de tempo aparecer o golo. Foi Pizzi, o tal que estava em tão evidente sub-rendimento na primeira parte e foi Pizzi que não só marcou mas que se soltou do espartilho táctico do Tondela pelo apoio e linha de passe rápida que passou a ter em Sálvio e Nélson Semedo, dupla rotinada e que sabe de olhos fechados que espaços ocupar.
Nós, Benfiquistas e treinadores cheios de conquistas nas fantasias das nossas mentes e que temos sempre razão na profundidade da nossa paixão pela nossa equipa, que queremos ver sempre vencer, fomos puxados à realidade por Rui Vitória com uma simples substituição. Como estava tudo diferente no Inverno de há um ano, não é? É tão bom estar errado.
Nota: Primeiro golo de Rafa! O primeiro de muitos, rapaz! Chuta à baliza!
A equipa do FC Porto entrou forte neste clássico e cedo se percebeu que toada teria o jogo.
O Portismo não tem apenas 30 e tal anos (muito pelo contrário) e este tipo de empenho demonstrado ontem é de um Porto "à antiga". O orgulho, a união e a raça que fizeram deste clube o terceiro grande, quando ainda Pinto da Costa nem sonhava ser Presidente.
Caceteiros? Ontem só numa ou outra ocasião; e com uma arbitragem neutra, o Porto "à moderna" dos últimos 30 e tal anos terá sempre dificuldades, por lhe faltar a base emocional que deitou fora em troca do ódio e da batotice. Isso é um problema do Portismo, contudo.
A equipa do Sport Lisboa e Benfica foi ontem empurrada demasiadas vezes para o seu reduto defensivo e percebia-se que, sem alterações, difícilmente não sofreria golos. Samaris sem ritmo, como se viu com o Kiev, pareceu-me má escolha para iniciar o jogo e a batalha do meio campo foi sempre desigual.
O golo surgiu, como infelizmente era espectável. Há 15 anos teria sido suficiente para a derrota - pela derrocada emocional e pelo controlo dos árbitros ainda então detido por Pinto da Costa. Só que esse controlo findou e este Benfica de Rui Vitória é pleno de espírito, forte emocionalmente e focado em si mesmo. Lesões e indisponibilidades nada significam para este grupo e para este treinador. Um mérito subvalorizado.
Esse espírito sobrepôs-se às dificuldades e à aparente montanha que havia que escalar - fez dela um montezinho de areia e o cabeceamento de Lisandro matou o fantasma dos 92 minutos no Dragão.
Olhemos fitos essa Águia altiva,
Essa Águia heráldica e suprema,
Padrão da raça ardente e viva,
Erguendo ao alto o nosso emblema!Com sacrifício e devoção
Com decisão serena e calma,
Dêmos-lhe o nosso coração!
Dêmos-lhe a fé, a alma!
- excerto do Hino do Sport Lisboa e Benfica
Nota: Sei que ainda não o disse, mas chegou a altura. A postura e atitudes de Maxi Pereira diante do clube que lhe deu notoriedade e títulos, perante ex-colegas de equipa até, demonstram que, com ou sem Paco Casal metido ao barulho, tem o carácter de um rato de esgoto. Claro que Maxi deve dar o seu máximo no jogo ao representar o clube que agora lhe paga para jogar. Contudo, há uma grande diferença entre dar tudo futebolisticamente e ser arruaceiro e provocador. Olha, há um tal Nélson Sem Medo que irá ocupar o lugar no museu Cosme Damião que poderia ter sido teu.
A Supertaça é o primeiro troféu da época, apesar de se desenrolar cedo de mais na época para que se perceba o que aí vem com garantia. Consegue ver-se quem está melhor naquela fase, poderá prever-se o potencial, mas a época será longa e difícil de prever.
Posto isto, a verdade é que ontem se verificou que o Benfica 2016/17 de Rui Vitória será tão ou mais atacante que o de 2015/16.
Por um lado, tem a coesão de quem joga junto há bastante tempo: Pizzi dá à equipa um jogo central que nenhum outro extremo do plantel tem para dar e complementa Jonas de olhos fechados, enquanto Mitroglou, apesar de ontem me parecer mal fisicamente, percebe o que tem de fazer para que Jonas se solte. Ah! E habemus Júlio César! Que exibição do nosso guarda-redes!
Por outro, tem qualidade nos reforços: Cervi é craque, fazendo lembrar o melhor Saviola, e ganhou confiança com o seu primeiro golo. André Horta começa a entender melhor a sua função e a desempenhá-la bem, libertando-se da comparação com Sanches. Grimaldo dá muito mais técnica à equipa que Eliseu, perdendo na componente física para o seu colega de posição.
Parece-me, no entanto (e se ficar no plantel), que Jardel deverá jogar por Luisão. O capitão é importante psicologicamente, mas obriga a que Lindelöf corra por dois e esteja sempre na dobra. Jardel é, nesta fase da carreira, uma melhor solução... se ficar no plantel.
De qualquer modo, verifica-se que a melhor defesa ao título que o Benfica poderá aplicar estará no ataque. Afinal, se se conseguir fazer dois a três golos por jogo, dificilmente não se conquistarão três pontos. Há muito a melhorar defensivamente, mas penso que isso virá com tempo, sinceramente.
Venha lá o Tondela!
Do futebol praticado pela equipa do Sport Lisboa e Benfica em Astana, há, colectivamente, pouco ou nada de novo a dizer. As falhas de posicionamento defensivo mantêm-se e a dinâmica ofensiva continua pobre, tendo sido menos visível pela falta de qualidade relativa do adversário.
Houve, no entanto, no aspecto individual uma certeza que só se houver uma escandalosa cegueira por parte do actual treinador do Benfica, Rui Vitória, não será implementada: Renato Sanches é o novo titular indiscutível.
O rapaz encheu o campo. Esteve presente no momento defensivo, posicionando-se sempre bem, e foi um verdadeiro motor ofensivamente, procurando sempre a conquista de terreno, com bola, ao adversário e eficaz e sem medo no momento de decidir, sempre bem, um passe.
Foi ele o desequilibrador. Foi ele a luz intensa de um farol no mar de escuridão futebolística que caracteriza o futebol actual Benfiquista.
Desengane-se, ainda assim, quem pense que ganhar Sanches, Semedo ou Guedes equivalem a vitórias. A aposta nos talentos do Seixal já estava atrasada, de acordo, mas este não é o melhor método para a implementar.
Sob a perspectiva de uma efectiva mudança na filosofia do futebol do Benfica, não é a saída do anterior treinador, Jorge Jesus, que me preocupa - é sim a escolha do sucessor. É que "atirar" jovens para dentro de campo qualquer um pode e consegue fazer. Integrá-los num esquema táctico e filosofias vitoriosas é difícil e requer que o treinador alie a uma sabedoria táctica impecável, uma capacidade humana acima da média para conseguir comunicar com tanto jovens como veteranos, para aliá-los na luta pela vitória.
Sanches, tal como Semedo antes de se lesionar, é um heroi apenas porque a ausência de competência táctica e estratégica obriga a que seja a criatividade e a capacidade física individuais a fazer a diferença. Com um jogo colectivo competente, o heroismo dilui-se e a vitória torna-se mais provável.
Pela minha parte, preferia que a ascensão destes talentos se fizesse dessa outra forma competente e vitoriosa, sem heroismos, para que mais tarde não se possam tornar vilões quando não puderem, num dia mau, corresponder às elevadas expectativas que aos seus jovens ombros foram colocadas. Receio que, para isso, seja necessário mesmo outro treinador.
Ainda assim, tenho de deixar os meus parabéns, merecidos, pela qualificação no seu todo. Espero que seja possível alcançar o primeiro lugar na Luz!
Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.
Com classe, inteligência, ambição e, claro está, a ponta de sorte sempre essencial na Liga dos Campeões, o Sport Lisboa e Benfica venceu no Vicente Calderón o Atlético de Madrid por 1-2.
O início da partida foi bastante repartido, mas o Atlético conseguia ganhar bastante espaço no centro e atrás da linha média Benfiquista, conseguindo criar perigo a partir desse local. Foi, aliás, daí que nasceu o golo inaugural; com uma tabela excepcional que desorientou a defensiva do Benfica e Correa a marcar perante Júlio César que quase a afastava para fora.
Foram os minutos, talvez, mais decisivos para o desfecho do encontro, aqueles que se seguiram ao golo do Atlético: Os anfitriães pressionaram, estiveram perto, cheiraram o golo, mas não marcaram o segundo que poderia bem ter morto o jogo ali.
Não marcaram e, como revela a tal lei que ninguém escreveu, sofreram mesmo: Nélson Semedo cruza da direita, a defensiva tenta afastar e a bola vem parar ao segundo poste, direitinha para o pé esquerdo de Gaitán que fez o empate. Decisivo. O jogo mudou ali.
Após o intervalo, a equipa veio mais personalizada e tivemos um Nélson Semedo, que já estivera bem até ali, absolutamente do outro mundo! Cada vez que o miúdo pegava na bola, levei as mãos à cabeça. Que pulmão! Que classe! Que capacidade!
O Benfica cerrou fileiras e recusava-se a desfazer o desenho, que era o ensejo de um Atlético que queria "convidá-lo" a sair, a pressionar, para repetir o que fizera no seu golo. Não indo na conversa, o Benfica forçou o Atlético a cometer erros, a perder a bola e a permitir os contra-ataques Gloriosos. Foi mesmo glorioso um desses lances, aos dez minutos da segunda parte, com Gaitán a aguentar a bola dentro do terreno, em corrida e transição rápida, a olhar, a fazer um passe longo incrível (com o pé direito!) para que Gonçalo Guedes pudesse, perto do segundo poste, marcar o segundo. Estava feito! Estava dado o pontapé na História, contra tudo e todos, contra mesmo a dúvida eterna que paira sobre a Alma Benfiquista (em que me incluo) de que os de hoje são capazes de honrar os ases do passado!
Faltava muito jogo ainda, muito que sofrer e gerir, mas naquele momento, um miúdo cheio de sonhos afirmou perante um mundo inteiro: "É possível!"
Ferido, o Atlético investiu, mas sem cabeça. Em contraste, a forma inteligente como o Benfica defendeu, sempre mantendo o desenho defensivo, não saindo à pressão cedo demais, impediu veleidades. Os Colchoneros quiseram muito, mas puderam pouco desde o golpe. E aquela defesa do nosso Imperador Júlio César? Valeu um golo!
E Nélson Semedo? Já vos falei dele? Que raça! Que técnica! Que fulgor! Quem é que tínhamos para aquela posição antes, mesmo?
Quando soou o apito final, todo o mundo Benfiquista celebrou. Foi a vitória do Vitória, o jogo que une o grupo em torno do seu treinador. A vitória contra os fantasmas.
Na entrevista rápida, Júlio César destacou a preparação do jogo feita por Rui Vitória. Este foi o Guarda-Redes com que Mourinho venceu a sua segunda Champions, não é um elogio qualquer. Ele próprio sabe o significado das suas palavras. Percebe o que aquele jogo fez no balneário.
Não correrá sempre tudo bem daqui para a frente, claro, mas a partir deste jogo, será o Benfica de Rui Vitória, sem mais fantasmas ou comparações. O mérito e a crítica serão dele e para ele.
Criticado quando necessário - e não deixarei de fazê-lo, quando se justificar! - mas aplaudido e elogiado quando merecido. Eu aplaudo e elogio Rui Vitória por esta vitória. Foi a vitória de Vitória no Sport Lisboa e Benfica. O jogo que une de vez o grupo à sua volta.
Alegria imensa!
NOTA 1: Repúdio e vergonha perante o episódio da tocha e do petardo. O Sport Lisboa e Benfica devia pedir ao Atlético de Madrid o contacto da família afectada e apresentar pessoal e discretamente desculpas, colocando-se à disposição para suportar custos hospitalares inerentes. Uma vez identificado o indivíduo que lançou a tocha, esse custo ser-lhe-ia imputado, ressarcido através dos tribunais, se necessário. Há que haver a compreensão, seja por parte de quem for, que há consequências para os actos.
NOTA 2: Valendo o que vale, nas cinco participações anteriores na Liga dos Campeões, tivemos uma vitória fora (Anderlecht 2-3). Até com o Hapoel de Tel Aviv e o Otelul perdemos, diga-se. Esta época começamos fora com uma vitória 1-2 com o Atlético Madrid?
Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.
CORRECÇÃO (Deixada em comentário):
De luis a 01.10.2015 às 12:28
Só uma correção, ganhamos 1-o fora ao Otelul, glo de Bruno César, e 2-0 ao Basileia, penso que Bruno César e Cardozo
O Benfica visitar o Dragão (antes Antas), ocasião tida como uma espécie de festival no calendário Portista, é sempre considerado um jogo muito complicado. Esta época, por tudo o que se passou em mais um verão quente à Portuguesa, a visita ganhava um interesse especial.
É que para além da questão do Maxi Pereira - que foi para mim, apenas e somente, como já relatei, o mais recente refém da guerrilha antiga - encontramos o Benfica de volta a um rumo que já nos parecia estranho, abandonado que tinha sido há tanto tempo: o da aposta efectiva, não só ocasional, na sua própria formação. Isto perante um Porto que, por mais uma época consecutiva, fez por ser apelidado de Super, gastando quantias consideráveis em transferências e salários no reforço do plantel.
Com uma pré-época desastrosa a vários níveis (cuja responsabillidade cai somente sobre os ombros de Luís Filipe Vieira e de quem o terá aconselhado), o início de época pareceu mostrar um novo treinador sem unhas para a guitarra Gloriosa. Mesmo assim perdeu a Supertaça com o Catedrático-Sporting apenas através de um "chouriço". A verdade é que a evolução nos processos, defensivos e ofensivos, tem sido notória. A verdadeira e útil pré-época tem sido feita em andamento competitivo, infelizmente - o que, repito, demonstra incompetência de quem a planeeou e aprovou, não de quem teve de se haver com ela.
Posto tudo isto, muitos esperavam que o tal Super-Porto esmagasse este "fraquinho" Benfica. Pois bem, não o fez e, tendo vencido a partida, deixou muitas perguntas por responder ao longo do resto da época. Desengane-se quem pensar que esta equipa do Porto rumará tranquila ao título, que até pode vir a conquistar, sim, mas não com o à-vontade desejado...
O nosso Sport Lisboa e Benfica, esse, entrou com personalidade, com vontade. Com um pouco de sorte - talvez as bruxarias de Fafe outra vez? - o Glorioso teria saído de lá com um resultado semelhante ao da época passada, tendo jogado bem melhor que nesse jogo. Só que o resultado final é o que conta e o Benfica não se fica com vitórias morais. Ficamos sim é com a clara sensação que, perante aquele que deveria ser o melhor plantel do campeonato, o Benfica lutou de igual para igual, remetendo grande parte do jogo ofensivo do adversário àquilo que já tinhamos acusado o Benfica de Vitória fazer: cruzamento à balda, procurando qualquer coisinha. O Benfica podia e devia até ter marcado e depois jogado contra dez (Maicon) a segunda parte... ou talvez mesmo nove (Maxi)...
Num ressalto azarado a meio campo, lá surgiu uma boa jogada que aproveitou o desequilíbrio defensivo do Benfica na ocasião para dar o golo da derrota. Já não havia muito tempo para reagir e a equipa sentiu demasiadamente o golo. As substituições não deram muito ao jogo, mas penso que a entrada de Talisca teve mais a ver com a fé num pontapé inspirado do que com outra coisa. Pizzi visou refrescar o exausto Guedes.
Posto isto, pergunta-se: é esta a diferença para o tal Super-Porto? Veremos na Luz, na segunda volta, como estarão as duas equipas. É que em termos de ideias de jogo e dos seus processos, vê-se evolução no Sport Lisboa e Benfica, mas uma enorme estagnação no Porto - joga quase o mesmo que na época anterior. Repito: não há cá vitórias morais, mas o facto é que Lopetegui ganhou um balão de oxigénio ainda sem mostrar ter capacidade táctica para pôr o melhor plantel do campeonato a ser demolidor, em contraste com Rui Vitória que, depois de todas as merecidas críticas de que foi alvo, mostra cada vez mais evolução, inteligência e atitude, mantendo fidelidade ao rumo para o qual foi contratado.
Vamos vendo jogo a jogo.
E Nélson Semedo é cada vez mais jogador... e será enorme!
Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.
Vencer o estreante Astana na primeira jornada da Champions, em casa, era o objectivo mínimo exigível ao Sport Lisboa e Benfica - e foi cumprido. Não foi uma exibição deslumbrante, mas não foi tão fraca como tenho lido por aí na blogosfera Gloriosa. Há muito ainda a melhorar, mas já muito foi melhorado também. Este adversário apresentou-se com a lição bem estudada e requereu uma mexida táctica que foi bem implementada ao intervalo por Rui Vitória.
A dinâmica ofensiva viu-se, a espaços, na primeira parte, mas, não concretizando o primeiro golo, o Benfica permitiu que o adversário adormecesse o jogo inteligentemente. Jonas não foi tão mortífero hoje como é costume (não pode ser sempre, infelizmente!) e isso foi intranquilizando a equipa.
Com a alteração na segunda parte, particularmente Samaris a descair evidentemente para a posição de lateral direito, tapando e encorajando as investidas de Nélson Semedo e permitindo que Gonçalo Guedes investisse mais em tabelas e jogo interior. Guedes não esteve a bom nível ainda, ao contrário do Nélson - sim revela inexperiência, mas também uma vontade enorme e uma capacidade de dar pulmão ao jogo fora-de-série: o melhor critério virá com o tempo, acredito.
Só que não foi só desse lado que ocorreu a diferença táctica para a segunda parte: Mitroglou passou a ter ordens para procurar mais os espaços na ala esquerda, libertando Gaitán para o jogo livre e criativo, contando com as subidas de Eliseu, para os apoios. Foi precisamente daí que nasceu o desbloqueio do jogo: tabela rápida com Mitroglou a transportar o defesa, abrindo a brecha para que Gaitán, na sua classe imensa, fizesse o resto. O um a zero, depois do susto que o Astana pregou logo no início da segunda parte, com uma bola ao poste perante a desconcentração de Jardel, trazia então a tranquilidade para partir para cima do adversário e matar o jogo.
Outra vez pelo lado esquerdo, contando com o apoio de Eliseu naquela ala, nasceu o segundo golo: lance de desequilíbrio puxando o lateral esquerdo do Astana, lançando Eliseu isolado que, tendo pelo menos duas escolhas (Jonas e Mitroglou), escolheu a mais visível e deixou o grego fazer o dois a zero.
Defensivamente não houve muito trabalho, mas notou-se ainda alguma fragilidade, pelo que há ainda muito a melhorar, mas o objectivo mínimo exigível para este primeiro jogo na Liga dos Campeões foi cumprido.
Quanto ao jogo jogado, continua a não estar tudo bem nem tudo mal, mas nota-se que há uma evolução sustentada e começa a perceber-se que Rui Vitória sabe, pelo menos, ler o jogo e emendar.
Uma coisa é certa: Gaitán é de outro mundo. Faz-me sentir como se tivessemos ali um Messi que ninguém mais conhece. Espero que seja possível, mesmo que improvável, mantê-lo até ao final da época, pelo menos!
Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.
O Estoril na Luz não foi, de todo, uma aldeia Gaulesa remetida à sua própria protecção. Foi sim, aproveitando a clara falta de confiança, a dúvida, que pairava sobre a psique encarnada, um conjunto de guerreiros da Gália atrevidos pelos poderes de uma qualquer poção mágica transmitida pelo seu ambicioso treinador, trespassando com facilidade as linhas defensivas da Legião Benfiquista, mas nunca ultrapassando o Imperador Júlio César. Foi ele que, defesa atrás de defesa, acabou por não só tornar possível, como exigir, de trás para a frente, que a confiança pudesse por fim descer sobre o Manto Sagrado e resolver a contenda.
A vitória acabaria por sorrir, por números até impensáveis para aquilo que a equipa estava a exibir: desconfiança, receio de errar, apatia.
Com a troca (talvez tardia) de Pizzi por Talisca e de Ola John por Victor Andrade, o Benfica ganhou dinâmica. Talisca voltou a ser (finalmente!) um transportador de bola e Victor Andrade trouxe muita vontade de abanar o jogo, de sacudir a defesa contrária.
E foram as defesas de Júlio César. E foram os cânticos por Eusébio. E foi Gaitán (romantismos à parte, o melhor em campo) que cruzou com precisão para Mitroglou poder afirmar que é reforço. Ele que já tinha marcado em fora-de-jogo (evidente) e que tinha já desperdiçado um golo feito a poucos metros da baliza, pôde agora associar o seu nome à Mística Benfiquista e perceber o que é uma explosão de alegria (que, no fundo, foi mais de alívio!) no seio da Família Gloriosa. Agora já sabe. Agora quererá mais.
Foi assim, com Eusébio a observar sorridente, que se deu a redenção dos Legionários, tão contestados pelas Américas, tão parcos por terras do Algarve.
O dardo do Grego (que nasceu no que fora outrora o reino de Alexandre, o Grande - a Macedónia), furou a resistência Estorilista e abriu o caminho para a exibição contundente, confiante, à bi-campeão! Talisca obrigou o defesa do Estoril a proteger o torso entre a mão e o joelho, tal a força do seu remate, providenciando a Jonas o primeiro golo da sua nova época na Luz, de penalty. Depois, Victor Andrade sacou um centro algo curvado demais - nada de mais para um Jonas confiante: um passito ou dois atrás, impulsão e vai buscar. Três a zero, num instante! Uma exibição de outra equipa, de uma Legião absolutamente diferente!
Só que o jogo não podia acabar sem o seu momento de poesia. Poesia justa (ou justiça poética, dirão alguns), pela medida da visão de Victor Andrade, do calcanhar de Gaitán, da movimentação de Nélson Semedo e do seu remate de pé esquerdo. O quarto golo demonstrara, por fim e para que dúvidas não restassem, que Jesus já não mora ali. Aquele fora o golo de Rui Vitória, o golo do exorcismo, o golo do sonho de inúmeros miúdos que tudo dão de si, dia após dia, para um dia chegar a pisar aquele relvado com o Manto Sagrado vestido. Foi o golo "daquilo que podia ter sido" com Bernardo Silva...
Missão cumprida, vitória alcançada, o Benfica onde deve estar. Muito suor; muita fortuna também, mas a sorte protege os audazes! Não ficou tudo resolvido, nem estava tudo destruído antes. Há muito trabalho pela frente, mas muita vontade, viu-se, de elevar o Benfica ao nível que merece.
Este foi o primeiro dia do resto da época da equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica.
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