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Alegria pela conquista de sexta-feira, a 7ª Taça da Liga, demonstrando, de novo, que é nosso o melhor ataque desta época...
mas tristeza pela saída confirmada de Nico Gaitán. Sim, ele merece melhor contrato e sim, o futebol hoje em dia é feito de despedidas para clubes sem condição financeira para controlar o mercado de transferências. Ainda assim, há muito de romantismo "à antiga" na despedida do nosso Nico, daí o momento especial. Aquelas lágrimas não são de crocodilo, mas sim de uma águia rubra que voou com a mística de um clube que, tal como ele, nasceu pequeno num cantinho incerto de uma grande cidade, mas fez-se gigante de coração, com o qual se superou para chegar à vitória, à glória e ao reconhecimento.
Força Nico! Volta sempre.
Foi preciso sofrer, mas já se sabia que o sofrimento teria de fazer parte desta segunda mão. Afinal, cabia à equipa Russa, em sua casa, tudo fazer para virar a desvantagem mínima que trouxe da Catedral.
Ainda assim, o Benfica entrou com a ideia de disputar a partida e marcar o seu golo. A consegui-lo, obrigaria o Zenit a ter de escalar a montanha psicológica de três golos.
Após uma primeira parte dividida, a segunda teve um Zenit mais pressionante, pressionada que estava a equipa para marcar o golo do empate na eliminatória. Foi, curiosamente, num lance ao estilo do clube do qual o seu treinador é adepto, que o Zenit, por fim, empatou a eliminatória:
Um lance repleto de garra, de ímpeto, de irregularidade e de um árbitro complacente.
No entanto, ao contrário de outras equipas que também sofreram na pele decisões incorrectas de árbitros perante equipas Russas nesta prova, o Benfica não chorou. Acreditou, encheu o peito e foi em frente tentar resolver o jogo de seguida. É certo que contamos com o espírito de Eusébio, mas isso não torna ilegal o golo inventado pela fé de Jimenez - afinal, não há regra que se conheça que impeça a intervenção divina ou espiritual. À bota de Jimenez desceu o pé direito de Eusébio e a fé do Mexicano fez o resto: remate impressionante, defesa incrível do guarda-redes, encosto de Gaitán para o 1-1 e a resolução da eliminatória. Grato Eusébio! Grato Jimenez!
Com o adversário já resignado, Talisca ainda pôde, com facilidade e um toque de classe, fazer o segundo golo.
Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.
Uma equipa pequena ter-se-ia desmoronado após o golo do Zenit (ainda por cima obtido da forma que foi). Só que o Sport Lisboa e Benfica é GIGANTE!
Num jogo que se esperava complicadíssimo, eis que se tornou numa enorme vitória conquistada em Braga, fruto de um pequeno factor posicional no momento ofensivo, que faz toda a diferença, como é visível.
Baixar um dos avançados para ser assumidamente um "10", transformando o 4-4-2 num 4-2-3-1 (apenas no momento ofensivo, pois defensivamente a equipa mantém o 4-4-2 assumido, mas já lá vamos), oferece ao nosso jogo outra dinâmica, por possibilitar mais e mais fáceis linhas de passe interiores. Acabou, com esta mudança, o fosso enorme que se via no meio campo, que colocava a nossa equipa quase a jogar num absurdo 4-2-4. O jogo faz-se de trás para a frente!
Gaitán, que foi fazendo de "10" nesta partida, mas por vezes trocando com Pizzi, que jogou mais à direita, e Guedes, que esteve mais apagado à esquerda, teve sempre mais espaço desta forma e maior escolha no momento de decidir. Durante grande parte deste jogo, deixou de haver aquele "Benfiquinha" do cruzamento "à chouriço" para a área, a ver se cai alguma coisa no prato, e houve sim um bom Benfica, cheio de dinamismo ofensivo. O que faz um simples "detalhe" posicional!
E Mitroglou é absolutamente impressionante. Estando em condições físicas para jogar, deve ser titular indiscutível!
O posicionamento defensivo, no entanto, foi deficiente ainda, apesar de, com a confiança dos golos, se verificar uma outra dinâmica na pressão - em particular com a capacidade física de Sanches, que se tornou num titular indiscutível. O 4-4-2 a defender parece-me inadequado, sendo preferível o recuo do 10 para povoar o centro do meio campo quando não se tem a bola. Lisandro fez um belo golo, é forte no desarme, mas tem uma enorme dificuldade em manter a linha defensiva. Foi frequente encontrá-lo desalinhado: ora pela excessiva vontade de desarmar, ora por marcar apenas o homem, sem olhar ao posicionamento relativo aos seus companheiros da defesa. Não é fácil, mas acredito que com trabalho e confiança, possa chegar ao nível de Jardel.
Outra curiosidade muito positiva foi ter verificado que a equipa afinal sabe trocar a bola e pôr o adversário a correr atrás dela. Porque não o fez mais cedo? Bom, há mérito do Braga, que de facto quis muito virar o resultado, mas há algum demérito do Benfica, a nível do já referido posicionamento defensivo. Alguns detalhes na transição defensiva podiam ter dado um maior descanso à nossa equipa, mas com certeza que o Pinheiro do Eu Visto de Vermelho e Branco, dissecará isso que todos vimos de uma forma mais evidente e técnica.
O que se deseja é que este seja o jogo "zero" de um novo ciclo para Rui Vitória. Há que utilizar esta boa exibição de uma forma diferente do que se fez aquando da vitória em Madrid.
Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.
Com classe, inteligência, ambição e, claro está, a ponta de sorte sempre essencial na Liga dos Campeões, o Sport Lisboa e Benfica venceu no Vicente Calderón o Atlético de Madrid por 1-2.
O início da partida foi bastante repartido, mas o Atlético conseguia ganhar bastante espaço no centro e atrás da linha média Benfiquista, conseguindo criar perigo a partir desse local. Foi, aliás, daí que nasceu o golo inaugural; com uma tabela excepcional que desorientou a defensiva do Benfica e Correa a marcar perante Júlio César que quase a afastava para fora.
Foram os minutos, talvez, mais decisivos para o desfecho do encontro, aqueles que se seguiram ao golo do Atlético: Os anfitriães pressionaram, estiveram perto, cheiraram o golo, mas não marcaram o segundo que poderia bem ter morto o jogo ali.
Não marcaram e, como revela a tal lei que ninguém escreveu, sofreram mesmo: Nélson Semedo cruza da direita, a defensiva tenta afastar e a bola vem parar ao segundo poste, direitinha para o pé esquerdo de Gaitán que fez o empate. Decisivo. O jogo mudou ali.
Após o intervalo, a equipa veio mais personalizada e tivemos um Nélson Semedo, que já estivera bem até ali, absolutamente do outro mundo! Cada vez que o miúdo pegava na bola, levei as mãos à cabeça. Que pulmão! Que classe! Que capacidade!
O Benfica cerrou fileiras e recusava-se a desfazer o desenho, que era o ensejo de um Atlético que queria "convidá-lo" a sair, a pressionar, para repetir o que fizera no seu golo. Não indo na conversa, o Benfica forçou o Atlético a cometer erros, a perder a bola e a permitir os contra-ataques Gloriosos. Foi mesmo glorioso um desses lances, aos dez minutos da segunda parte, com Gaitán a aguentar a bola dentro do terreno, em corrida e transição rápida, a olhar, a fazer um passe longo incrível (com o pé direito!) para que Gonçalo Guedes pudesse, perto do segundo poste, marcar o segundo. Estava feito! Estava dado o pontapé na História, contra tudo e todos, contra mesmo a dúvida eterna que paira sobre a Alma Benfiquista (em que me incluo) de que os de hoje são capazes de honrar os ases do passado!
Faltava muito jogo ainda, muito que sofrer e gerir, mas naquele momento, um miúdo cheio de sonhos afirmou perante um mundo inteiro: "É possível!"
Ferido, o Atlético investiu, mas sem cabeça. Em contraste, a forma inteligente como o Benfica defendeu, sempre mantendo o desenho defensivo, não saindo à pressão cedo demais, impediu veleidades. Os Colchoneros quiseram muito, mas puderam pouco desde o golpe. E aquela defesa do nosso Imperador Júlio César? Valeu um golo!
E Nélson Semedo? Já vos falei dele? Que raça! Que técnica! Que fulgor! Quem é que tínhamos para aquela posição antes, mesmo?
Quando soou o apito final, todo o mundo Benfiquista celebrou. Foi a vitória do Vitória, o jogo que une o grupo em torno do seu treinador. A vitória contra os fantasmas.
Na entrevista rápida, Júlio César destacou a preparação do jogo feita por Rui Vitória. Este foi o Guarda-Redes com que Mourinho venceu a sua segunda Champions, não é um elogio qualquer. Ele próprio sabe o significado das suas palavras. Percebe o que aquele jogo fez no balneário.
Não correrá sempre tudo bem daqui para a frente, claro, mas a partir deste jogo, será o Benfica de Rui Vitória, sem mais fantasmas ou comparações. O mérito e a crítica serão dele e para ele.
Criticado quando necessário - e não deixarei de fazê-lo, quando se justificar! - mas aplaudido e elogiado quando merecido. Eu aplaudo e elogio Rui Vitória por esta vitória. Foi a vitória de Vitória no Sport Lisboa e Benfica. O jogo que une de vez o grupo à sua volta.
Alegria imensa!
NOTA 1: Repúdio e vergonha perante o episódio da tocha e do petardo. O Sport Lisboa e Benfica devia pedir ao Atlético de Madrid o contacto da família afectada e apresentar pessoal e discretamente desculpas, colocando-se à disposição para suportar custos hospitalares inerentes. Uma vez identificado o indivíduo que lançou a tocha, esse custo ser-lhe-ia imputado, ressarcido através dos tribunais, se necessário. Há que haver a compreensão, seja por parte de quem for, que há consequências para os actos.
NOTA 2: Valendo o que vale, nas cinco participações anteriores na Liga dos Campeões, tivemos uma vitória fora (Anderlecht 2-3). Até com o Hapoel de Tel Aviv e o Otelul perdemos, diga-se. Esta época começamos fora com uma vitória 1-2 com o Atlético Madrid?
Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.
CORRECÇÃO (Deixada em comentário):
De luis a 01.10.2015 às 12:28
Só uma correção, ganhamos 1-o fora ao Otelul, glo de Bruno César, e 2-0 ao Basileia, penso que Bruno César e Cardozo
A derrota no Dragão por 1-0 na jornada anterior, tinha deixado o Benfica a quatro pontos, impulsionando o FC Porto para a liderança. Uma semana depois, desses três pontos perdidos no Dragão, dois já cá cantam, recuperados. Os Portistas não foram além de um empate com o Moreirense (continuando a não mostrar evolução exibicional), enquanto que o nosso Sport Lisboa e Benfica bateu o Paços de Ferreira por 3-0. Como bónus, tivemos um Sporting também com pouca ou nenhuma evolução a empatar no Bessa.
Quanto ao nosso jogo, grandes, enormes 15 minutos iniciais. Dinâmica, pressão, sufoco mesmo - um pouco tiro ao boneco, só que a bola teimava em não entrar, e, se tivesse entrado, de certeza teríamos goleada por outros número ainda mais expressivos. A bola não entrou e o Paços foi equilibrando as ocorrências. Acertou as marcações, subiu em bloco, ocupou o espaço entre linhas, povoando-o muito organizadamente e roubou a bola ao Benfica. Com isto, criou perigo constante, ameaçando sempre com intento a abertura do marcador. Ainda assim, o Benfica, submetido que foi a esta pressão, não vacilou, defendeu com critério, concentração e organização. O que pensei nesta fase do jogo foi: "Se este jogo tivesse sido há umas três ou quatro jornadas atrás, perderíamos, provavelmente". Só que a evolução nos processos nota-se e, após aguentar a pressão de uma equipa bem organizada e com um plano de jogo que não se limitou ao aspecto defensivo (palmas ao Paços e ao seu treinador), apareceu o artilheiro deste nosso Glorioso, o homem que nos deslumbra com a sua capacidade de finalização. Precisou de meia oportunidade e fez um golo brilhante.
Após o intervalo, a equipa do Paços quis voltar ao jogo, mas o Benfica não deixou. Só que o segundo golo não chegava e, por isso, a dúvida quanto à conquista dos pontos permanecia. O Paços não desarmava, mas o Benfica não permitiu, nessa fase, demasiadas facilidades.
O surgimento do segundo golo, finalmente, veio acalmar o jogo e permitir a gestão. Gaitán descobriu Guedes à entrada da área e este, com sorte, conseguiu marcar o seu primeiro golo oficial pelo Benfica.
Foi o mesmo Guedes que mostrou ter afinal mais capacidade para jogo colectivo: dominou em boa posição ao segundo poste e tocou para trás, para Jonas finalizar o 3-0.
Em suma, temos uma equipa cada vez mais coesa e segura de si. Vê-se notória evolução nos processos e nas transições, apesar de haver ainda muito trabalho pela frente. E André Almeida dá uma segurança ao meio campo Glorioso que o torna, para já, essencial a meu ver!
É claro que há muito campeonato pela frente e tudo pode mudar, mas enquanto se verificar esta evolução, o Campeão voltou!
Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.
Vencer o estreante Astana na primeira jornada da Champions, em casa, era o objectivo mínimo exigível ao Sport Lisboa e Benfica - e foi cumprido. Não foi uma exibição deslumbrante, mas não foi tão fraca como tenho lido por aí na blogosfera Gloriosa. Há muito ainda a melhorar, mas já muito foi melhorado também. Este adversário apresentou-se com a lição bem estudada e requereu uma mexida táctica que foi bem implementada ao intervalo por Rui Vitória.
A dinâmica ofensiva viu-se, a espaços, na primeira parte, mas, não concretizando o primeiro golo, o Benfica permitiu que o adversário adormecesse o jogo inteligentemente. Jonas não foi tão mortífero hoje como é costume (não pode ser sempre, infelizmente!) e isso foi intranquilizando a equipa.
Com a alteração na segunda parte, particularmente Samaris a descair evidentemente para a posição de lateral direito, tapando e encorajando as investidas de Nélson Semedo e permitindo que Gonçalo Guedes investisse mais em tabelas e jogo interior. Guedes não esteve a bom nível ainda, ao contrário do Nélson - sim revela inexperiência, mas também uma vontade enorme e uma capacidade de dar pulmão ao jogo fora-de-série: o melhor critério virá com o tempo, acredito.
Só que não foi só desse lado que ocorreu a diferença táctica para a segunda parte: Mitroglou passou a ter ordens para procurar mais os espaços na ala esquerda, libertando Gaitán para o jogo livre e criativo, contando com as subidas de Eliseu, para os apoios. Foi precisamente daí que nasceu o desbloqueio do jogo: tabela rápida com Mitroglou a transportar o defesa, abrindo a brecha para que Gaitán, na sua classe imensa, fizesse o resto. O um a zero, depois do susto que o Astana pregou logo no início da segunda parte, com uma bola ao poste perante a desconcentração de Jardel, trazia então a tranquilidade para partir para cima do adversário e matar o jogo.
Outra vez pelo lado esquerdo, contando com o apoio de Eliseu naquela ala, nasceu o segundo golo: lance de desequilíbrio puxando o lateral esquerdo do Astana, lançando Eliseu isolado que, tendo pelo menos duas escolhas (Jonas e Mitroglou), escolheu a mais visível e deixou o grego fazer o dois a zero.
Defensivamente não houve muito trabalho, mas notou-se ainda alguma fragilidade, pelo que há ainda muito a melhorar, mas o objectivo mínimo exigível para este primeiro jogo na Liga dos Campeões foi cumprido.
Quanto ao jogo jogado, continua a não estar tudo bem nem tudo mal, mas nota-se que há uma evolução sustentada e começa a perceber-se que Rui Vitória sabe, pelo menos, ler o jogo e emendar.
Uma coisa é certa: Gaitán é de outro mundo. Faz-me sentir como se tivessemos ali um Messi que ninguém mais conhece. Espero que seja possível, mesmo que improvável, mantê-lo até ao final da época, pelo menos!
Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.
Não é por ter sido meia dúzia que agora passou a estar tudo bem, mas sem dúvida alguma que o Benfica que defrontou, na sexta-feira, o Belenenses, foi outro distinto e que ainda só tinha aparecido durante 15 minutunhos perante o Estoril.
O golo cedo ajudou, com certeza. A confiança de estar à frente libertou os jogadores para uma exibição magnífica. Parece-me também que os jogadores estão agora mais "disponíveis" fisicamente. Defensivamente não houve qualquer margem para que os azuis do Restelo pudessem espreitar a baliza de Júlio César.
O posicionamento e interajuda no processo defensivo foram quase perfeitos: Os laterais já fecham interiormente (Eliseu ainda é muitas vezes apanhado a defender por fora e parece não conseguir corrigir), Samaris foi uma rolha no meio campo, mantendo a defesa impermeável, Luisão voltou a ser comandante com o imediato Jardel a seu lado.
O processo ofensivo também já teve o jogo interior em sucessão rápida de passes que parte as defesas contrárias. Assim sim. O primeiro golo foi fruto de uma movimentação de Jonas "à Lima", que cruzou para Kostas "Tacuara" Mitrogolo finalizar como se fosse Paraguaio desde pequenino (se alguma vez foi pequeno!). Foi um cruzamento com critério, criando a movimentação o espaço entre os dois centrais que o Grego usou para facilmente ganhar o lance a Tonel. A partir daí, viu-se o rolo compressor. Rápidos na bola recuperada, intensos nos passes, no querer marcar mais, na gestão defensiva feita em ataque continuado. Os outros golos foram surgindo naturalmente, as falhas defensivas inevitáveis para quem é exposto a tamanha pressão.
A história desta partida conta-se pelos golos e pelas ocasiões que não entraram para o Benfica. O Belenenses não fez mais porque o Benfica não deixou. Jonas foi o goleador do costume, sempre frio e certinho na finalização, Gaitán deslumbrou e até Talisca voltou aos petardos.
Se isto foi fruto do trabalho de Rui Vitória, então, desta vez, conta com o meu aplauso imenso. Há que manter este caminho agora! Muito do que acusei, vi corrigido, mas um jogo não basta. No Benfica, só todos os jogos contam!
Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.
O Estoril na Luz não foi, de todo, uma aldeia Gaulesa remetida à sua própria protecção. Foi sim, aproveitando a clara falta de confiança, a dúvida, que pairava sobre a psique encarnada, um conjunto de guerreiros da Gália atrevidos pelos poderes de uma qualquer poção mágica transmitida pelo seu ambicioso treinador, trespassando com facilidade as linhas defensivas da Legião Benfiquista, mas nunca ultrapassando o Imperador Júlio César. Foi ele que, defesa atrás de defesa, acabou por não só tornar possível, como exigir, de trás para a frente, que a confiança pudesse por fim descer sobre o Manto Sagrado e resolver a contenda.
A vitória acabaria por sorrir, por números até impensáveis para aquilo que a equipa estava a exibir: desconfiança, receio de errar, apatia.
Com a troca (talvez tardia) de Pizzi por Talisca e de Ola John por Victor Andrade, o Benfica ganhou dinâmica. Talisca voltou a ser (finalmente!) um transportador de bola e Victor Andrade trouxe muita vontade de abanar o jogo, de sacudir a defesa contrária.
E foram as defesas de Júlio César. E foram os cânticos por Eusébio. E foi Gaitán (romantismos à parte, o melhor em campo) que cruzou com precisão para Mitroglou poder afirmar que é reforço. Ele que já tinha marcado em fora-de-jogo (evidente) e que tinha já desperdiçado um golo feito a poucos metros da baliza, pôde agora associar o seu nome à Mística Benfiquista e perceber o que é uma explosão de alegria (que, no fundo, foi mais de alívio!) no seio da Família Gloriosa. Agora já sabe. Agora quererá mais.
Foi assim, com Eusébio a observar sorridente, que se deu a redenção dos Legionários, tão contestados pelas Américas, tão parcos por terras do Algarve.
O dardo do Grego (que nasceu no que fora outrora o reino de Alexandre, o Grande - a Macedónia), furou a resistência Estorilista e abriu o caminho para a exibição contundente, confiante, à bi-campeão! Talisca obrigou o defesa do Estoril a proteger o torso entre a mão e o joelho, tal a força do seu remate, providenciando a Jonas o primeiro golo da sua nova época na Luz, de penalty. Depois, Victor Andrade sacou um centro algo curvado demais - nada de mais para um Jonas confiante: um passito ou dois atrás, impulsão e vai buscar. Três a zero, num instante! Uma exibição de outra equipa, de uma Legião absolutamente diferente!
Só que o jogo não podia acabar sem o seu momento de poesia. Poesia justa (ou justiça poética, dirão alguns), pela medida da visão de Victor Andrade, do calcanhar de Gaitán, da movimentação de Nélson Semedo e do seu remate de pé esquerdo. O quarto golo demonstrara, por fim e para que dúvidas não restassem, que Jesus já não mora ali. Aquele fora o golo de Rui Vitória, o golo do exorcismo, o golo do sonho de inúmeros miúdos que tudo dão de si, dia após dia, para um dia chegar a pisar aquele relvado com o Manto Sagrado vestido. Foi o golo "daquilo que podia ter sido" com Bernardo Silva...
Missão cumprida, vitória alcançada, o Benfica onde deve estar. Muito suor; muita fortuna também, mas a sorte protege os audazes! Não ficou tudo resolvido, nem estava tudo destruído antes. Há muito trabalho pela frente, mas muita vontade, viu-se, de elevar o Benfica ao nível que merece.
Este foi o primeiro dia do resto da época da equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica.
Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.
Motivos de força maior impediram-me de comentar mais cedo o jogo com o Nacional da jornada da semana passada. Impediram-me sequer de o celebrar convenientemente. Foi o preto da morte a intrometer-se no branco da vida. Foi o lado reverso da moeda que nos relembra que a festa um dia acaba. Há é esta alegria do Benfica a conviver lado a lado com a mágoa do que se perde para sempre.
A vida prossegue, no entanto, e eu aqui estou.
...
Do jogo com o CD Nacional, destaco a enorme visão de jogo e cultura táctica de Gaitán (adquiridas no Sport Lisboa e Benfica, deve dizer-se), aliadas a uma técnica bem acima da média europeia. Espalhou, sempre que a bola lhe foi endereçada, o perfume de um futebol que, ainda que moderno, se adequava às camisolas do clube Madeirense: o preto e branco. Porquê? Porque fez lembrar o grande Benfica que se via nas velhas TVs a duas cores. Aquele Benfica que não dava hipóteses, especialmente na Luz.
Gaitán teve menos magia na partida com a Académica, outra equipa que veste de preto e algum branco, mas todo o Benfica estava tão unido e em rotação tão elevada, que mal se deu pela menor inspiração do Nico na primeira parte. Só que ele até chegou a tempo de aparecer na segunda!
Em ambas as partidas, o que se viu foi, como referi, futebol de outros tempos. O preenchimento dos espaços, a vontade de chegar primeiro à bola, a atitude permanentemente ofensiva e com os olhos postos no próximo golo: podiam ter sido jogos do Benfica na Luz na década de 70 - basta colocar-se um filtro de cores para passá-las a preto e branco e colocar algum efeito dando "ruído" às imagens, para se ser transportado para a década em que o futebol total e o futebol samba conviveram lado a lado pelos relvados... e pelo Sport Lisboa e Benfica, nessa altura, passou bastante samba... à moda tuga, é claro.
É certo e sabido que durante estas duas partidas a equipa do Benfica teve momentos de desconcentração e, até, algum descontrolo táctico e emocional. A diferença é que, quando estes surgiram, já o resultado se tinha avolumado o suficiente para que qualquer dúvida se pudesse instalar. Até nisto se pareceram com jogos a preto e branco, as cores das camisolas adversárias.
Não restem dúvidas: nesta fase do campeonato (desde Paços de Ferreira), o Sport Lisboa e Benfica na Luz é um e fora da Luz é outro, essencialmente na atitude mental. Ainda falta bastante, mas se o Glorioso passar no Restelo e colocar em campo, com uma Luz repleta, a mesma mentalidade na partida seguinte, o Bi será uma realidade, ao fim de 31 anos. Que venha... ao colinho de todos nós!
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