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Acompanho, conforme o meu tempo me permite, o blogue Novo Geração Benfica, por ter como autores pessoas que são apaixonados Benfiquistas, com opiniões tão díspares quanto o alcance das asas bem abertas da Águia no símbolo do Glorioso.
Algo me aconteceu, pessoalmente (e que não revelarei aqui), há dois anos, com a conquista do Tri, que fez a minha postura perante o Benfica actual alterar-se. Como entendo, em primeira mão, a profundidade das preocupações de alguns dos Benfiquistas que escrevem nesse blogue (bem como noutros, diga-se), decido agora escrever algo breve sobre essa visão do Benfica e de como o clube é gerido actualmente, que tenho uns minutos antes da Supertaça de Futsal.
A questão é que não foi o Benfica que mudou desde os saudosos tempos do Eusébio, do Coluna e de toda aquela constelação Mística. Foi o mundo. Aliás, o mundo Português começou a mudar com atraso, só em 1974, quando noutros países essa mudança já se tinha feito sentir. Não estou a classificar essa mudança como "boa" ou "má", pois isso não é conversa para aqui chamada. O facto é que o mundo em si mudou drástica e repentinamente nos últimos 50 anos e para uma significativa fatia dos Benfiquistas essa mudança, em particular após a depressão dos 1990's e 2000's, não foi possível de assimilar devidamente. A posição de Portugal no mundo alterou da noite para o dia, a sua importância económica e estratégica também. A descolonização secou o principal viveiro de talento do Sport Lisboa e Benfica, tanto ou mais do que quando surgiram o Casa Pia Atlético Clube e o Clube de Futebol "Os Belenenses" nos anos 20. No entanto, só em 1979 é que o Benfica se começou a adaptar a uma realidade cada vez mais evidente: que o futebol iria deixar de ser um desporto e passaria a ser um negócio, tão competitivo e desleal como os outros negócios todos.
Hoje vive-se na época dos 200 e tal milhões do Neymar, com dinheiro do petróleo, precedente aberto pelo magnata Russo do Chelsea e, por isso, o peso do Benfica no mundo de futebol, ainda que mágico na capacidade que tem de chegar a todos os cantos do mundo, é muito inferior do que era há 50 anos.
Ao fim deste tempo todo, o Benfica vive agora uma nova página da sua História, imerso num mundo cada vez mais incivilizado, sediado num país cada vez mais desprovido do seu carácter, do seu amor-próprio e da sua força estratégica - num país cada vez mais ajoelhado às forças de um Império que, ao contrário de Roma, não se manifesta com estandartes nem com armas.
No futebol dentro do campo, o empate com o Rio Ave (que até nem foi nenhum resultado desastroso, porque o Rio Ave é, neste momento, o 4º clube do futebol Português a nível estrutural, na minha opinião) trouxe à tona as inseguranças todas que parte dos Benfiquistas tem sempre perto de si, como aquela fotografia do momento que queremos esquecer, mas que guardamos no álbum mais precioso. Passámos a ter que refazer o plantel de alto a baixo, porque temos de ganhar os jogos todos - comparando com um tempo em que os clubes periféricos mal tinham campo de treinos, quanto mais equipa para se bater com o profissionalismo que o Benfica já evidenciava nos 60's. Empatámos este e perderemos mais pontos noutros jogos. Os grandes já não jogam sozinhos. Mais a mais, o Benfica já não é visto como grande na UEFA, a par por exemplo, de um Chelsea, devido à sua posição. O Histórico serve os puros e os românticos, mas a UEFA e os parasitas que gravitam à volta do futebol não querem saber disso, apenas do poder.
Colocado num mundo assim, quem neste momento traçou um Sport Lisboa e Benfica com este tipo de gestão adaptou-se aos parasitas (mesmo que se opine que o faça por simpatia com eles) por forma a adaptar o clube ao que aqui está e ao que aí vem. Para isso, Rui Vitória é o homem certo - pela sua inteligência, postura, visão e capacidade de gestão pessoal - e, por consequência, também o é o mercador Luís Filipe Vieira.
Da mesma forma que o Sport Lisboa e Benfica teria ficado pelo caminho se a ideologia pura de Cosme Damião (um dos originais Benfiquistas) tivesse vencido a adaptativa de Ribeiro dos Reis, também o Benfica ideológico que nos deixa saudades lá atrás seria um farol apagado sem esta mudança no mundo material.
Afinal, o "Espírito" do Glorioso (esse sempre puro) necessita de um "Corpo" forte para residir e continuar a Iluminar-nos à transcendência que todos procuramos, em cada jogo, nos relvados pelo mundo fora onde saltitam as papoilas berrantes que nos apaixonam profundamente.
Já muitos compararam os "vai-vens" de um jogo de futebol com os altos e baixos do trajecto de uma vida humana. Compreendo e aceito a metáfora, mas, pessoalmente, considero que tal paralelismo deve ir mais além. Não são apenas as nossas vidas pequenas (se comparadas com o todo avassalador à nossa volta), que estão espelhadas naquele rectângulo de relva.
Há umas semanas tinha feito referência à vontade, trabalho e esforço que o Sport Lisboa e Benfica teria de aplicar para ultrapassar o lodo em que se vê inserido, a toda a sua volta, utilizando uma parábola clássica. Tal lodo nunca desaparecerá, por ser natureza da nossa existência, mas neste ciclo temporal que é um jogo, que é um campeonato, que é esta simulação de uma era inteira, demonstra-se quem resiste, quem persiste, quem se transcende.
Ontem, assistimos a um embate de duas grandes equipas. De um lado, um Rio Ave em crescente afirmação, cada vez mais com um projecto sustentado desde a formação e com valências e competências que não são recentes. Do outro, um Benfica à beira de um sonho, de ombros postos à roda da sua carroça, atolada na lama composta por todos os que odeiam o Fogo da Vida.
E foi isso mesmo que se passou: uma luta persistente, sem descanso, ciente da humildade de que se fazem os Campeões, sem pejo de defender cada pedaço de relva como se fosse sempre aquele lance o decisivo. Sofremos, sim, mas porque do outro lado esteve uma enorme equipa, que quis ganhar, que nunca cedeu às tentações do anti-jogo. Estivemos à altura, porque fomos sempre superiores à tentação do nervosismo próprio, associado ao movimento dos ponteiros do relógio.
No momento certo, no aproveitamento da descompensação contrária num contra-ataque perfeito, Jonas descobriu o espaço de forma mágica, Sálvio, fresquinho, correu com o sonho de milhões nos pés e, perante os gritos de todos nós que ele terá ouvido na alma ("Passa a bola, Sálvio! Passa a bola, Sálvio!"), levantou a cabeça, colocou a bola redondinha nos pés de Raúl para que ele nos elevasse a todos à suprema alegria do golo.
A nossa luta de então não terminou aí, da mesma forma que a nossa luta por este Tetra continuará, pois nada estava ontem, nem está ainda hoje, ganho. Tivemos de saber suportar depois o orgulho ferido de um conjunto de jogadores que querem muito ser como nós, partilhar da nossa chama. Fazem falta ao futebol Português mais equipas como este Rio Ave, que querem jogar o jogo e sabem fazê-lo.
Já perto do fim, contámos ainda com a intervenção do nosso magnífico Manuel Bento, que primeiro defendeu um remate para o poste e depois desviou a recarga por cima da barra. Não o viram? Revejam bem a repetição, com toda a atenção, e lá o verão, com o seu farto bigode e os seus despenteados caracóis ao vento, defendendo a baliza do seu Benfica contra o mundo.
Nada está ainda ganho. Estamos perto, sim, mas nunca como no momento mais próximo da vitória é necessaria a concentração.
«O jogo mais difícil de ganhar, é o jogo ganho», citando Emanuel Lasker, o grande jogador de xadrez.
Vençam por vós, vençam por nós, vençam pelo Fogo de que é feita a Vida!
Fazendo a devida ressalva em relação à infelicidade do jogador que representa o Rio Ave (e que não tem culpa nenhuma do nome que tem), há uma justiça poética que um jogo tão importante tenha sido resolvido com a ajuda infeliz de alguém cujo nome representa o que de mais bilioso há no anti-Benfiquismo: André Vilas Boas.
É claro que o outro tem uma grafia diferente e este jogador, se calhar, até é boa pessoa, mas que há algo de poético nisto, há.
Foi um jogo muito difícil, como esperado, mas como jogámos de uma forma estruturada - muito respeitinho pelo adversário! - dificilmente o Rio Ave nos conseguiria criar perigo, excepto num lance de bola parada ou algo fortuito. O nosso problema neste jogo residiu na criação e finalização. Podíamos e devíamos ter marcado mais cedo.
Só que estava escrito que tinha de ser Raúl-Ave de rapina a ir buscar aquela migalha largada pelo capitão do Rio Ave. Merecemos este desfecho, pois fomos a única equipa a querer chegar ao golo... e Raúl "9 milhões" já pagou a metade do seu passe com os seus golos cirúrgicos.
A sorte protege os audazes!
Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.
O mais importante, outra vez conseguido: a vitória. Esta alegria, sofrida, não retira, no entanto, a angústia organizativa do futebol do nosso Sport Lisboa e Benfica. Sim, houveram penalties por assinalar, sim, não sou cego. No entanto, há que jogar mais com estes jogadores que, justiça lhes seja feita, tudo têm feito para serem heróis, apesar da parca liderança a que estão sujeitos. Este plantel dá mais, mas acaba sempre por necessitar da tal superação individual, a inspiração guerreira, para levar a água ao seu moinho. Este esforço paga-se mais à frente, quando o acumulado de uma época pesar sobre os ombros. Vale-nos que os outros não andam descansados a passear...
Leia uma análise mais factual à partida, por Eu visto de Vermelho e Branco, aqui.
A derrota do (agora) segundo classificado, aproxima-nos bastante dessa posição e deixa as coisas mais interessantes para o ano novo. Vamos ver então como corre em 2016, até pelos reforços que estão a chegar.
NOTA 1:
Absurda atitude de vitimização "à la calimero" da Federação Portuguesa de Natação.
Em primeiro lugar, o que Rui Vitória disse foi a descrição do que é uma corrida de natação: «estava sozinho debaixo de água, batia com a cabeça na parede e voltava para trás», ou seja é um desporto individual que se pratica debaixo de água e, de facto, envolve dar a volta junto à parede para se voltar para trás e prosseguir.
Em segundo lugar, a Federação Portuguesa de Natação é que deve um pedido de desculpas ao Sport Lisboa e Benfica!
NOTA 2:
http://euvistodevermelhoebranco.blogs.sapo.pt/entrevista-a-fernando-tavares-24241
Entrevista muito interessante a Fernando Tavares, no Eu Visto de Vermelho e Branco.
Na primeira época de Jorge Jesus no Glorioso, a equipa do Sport Lisboa e Benfica teve uma fase de verdadeiro rolo compressor, uma vez ultrapassado o decepcionante empate na primeira jornada, na Luz, com o Marítimo. A partir daí entrou num ritmo avassalador, esmagando etapas uma atrás das outras durante um período significativo.
À oitava jornada, o SL Benfica recebia o CD Nacional, na altura como agora liderado por Manuel Machado (que regressou ao clube Madeirense após umas outras aventuras menos conseguidas). Começou aí, penso eu, uma picardia nada saudável, motivada pela já conhecida "fanfarronice taberneira" que era na altura muito mais evidente em Jesus que agora, no período pré media training.
A equipa do Benfica começou melhor e Cardozo marca o primeiro, após brilhante jogada colectiva, confirmando para todos os presentes que não havia ali lugar para abrandamento. Só que o Nacional chega ao empate num lance irregular (milimétrico, mas fora-de-jogo) e coloca a dúvida nos ânimos na Luz. A partir daí, só deu Benfica.
Saviola faz (de cabeça!!) o 2-1 e já na segunda parte, Cardozo bisa, de penalty, para o 3-1. Depois, foi a vez de Saviola bisar também, com a assistência de Cardozo (com dúvidas se houve mão), e colocar o resultado em 4-1.
Jesus estava fora de si. O jogo virara e o Benfica estava agora "a dar baile". Foi neste momento que se celebrizou um dos gestos mais emblemáticos da primeira época de Jorge Jesus no Benfica. Virando-se para o banco do Nacional, erguendo os quatro dedos e deixando-os dançar ao sabor da vitória, JJ "picava" Manuel Machado e dava início a uma rivalidade que dura até hoje.
O jogo ainda teve mais: Nuno Gomes fez o 5-1 e novo penalty deu a Cardozo um hat trick.
Acerca do comportamento de Jorge Jesus, Manuel Machado, já conhecido pela retórica algo rebuscada com que brindava os jornalistas em muitas conferências de imprensa, respondeu de forma afectada:
Trago-vos a lembrança deste episódio porque este fim de semana, acabou por ser o rival Machado a cortar na Madeira, parcialmente, o enorme pecado de Jesus em Vila do Conde.
No comentário a um artigo anterior, assumi-me como fã de Jesus, sendo conhecedor das suas virtudes e defeitos. Pois bem, perante um Rio Ave organizado, espevitado e que nunca virou a cara à luta, a equipa do Benfica expôs, uma vez mais, as fragilidades do plano de jogo para este tipo de deslocações.
Não há, esta época, grande diferença entre o Paços de Ferreira e o Rio Ave e, se o Benfica tivesse marcado cedo diante do Paços, provavelmente o próprio jogo e desfecho seriam semelhantes. Até Gaitán faltou em ambos jogos.
A verdade é que o golo cedo, que podia dar a tranquilidade que deu nos Barreiros, acabou por atirar a equipa para uma completa escassez de ideias, retirada que foi do seu estilo de jogo preferido pela pressão dos adversários, pela dimensão do terrenos de jogo e, claro está, pelo próprio valor da equipa contrária. O Rio Ave, a par do Paços, soube explorar as debilidades defensivas da linha subida do Benfica que, a jogar fora, merece ser revista com urgência. Perante equipas que disponham de avançados rápidos e que guardem bem a bola, um passe (ou mesmo um "chutão") para as costas dessa linha defensiva (particularmente, para as alas e de entre essas a mais frágil é a de Eliseu) é, quase sempre, um momento de aperto. Foi por aí que tanto o Paços como o Rio Ave venceram os seus jogos.
É que neste momento, o Benfica sem Gaitán não tem o mesmo motor - ou melhor dizendo, tem o mesmo motor, mas anda sem piloto. Nem Jonas teve como mostrar serviço e Lima falhou na Hora H. A equipa não soube tomar conta dos acontecimentos, jogando mais próxima, trocando a bola, frustrando o adversário e obrigando-o a cometer um outro erro que desse no 0-2. Como já tenho lido por aí, "pôs-se a jeito".
Este enorme pecado (repetido) de Jorge Jesus foi, no entanto, aliviado por Manuel Machado e o seu CD Nacional. A equipa da Choupana fez uma grande exibição também, por seu lado, e só não deu a volta completa ao marcador porque um dos seus avançados teve um momento inacreditável perante a baliza aberta. Ainda assim, este 1-1 oferecido pelo rival Machado, deu a Jesus uma absolvição parcial. Irá ele aproveitá-la?
É que já a seguir vem o Machado à Luz.
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